sexta-feira, 31 de maio de 2019

"AS CRIANÇAS NÃO APRENDEM SE NÃO FOREM TOCADAS NOS SEUS CORAÇÕES"


Gostei de ler a entrevista de Bárbara Wong a Alberto M. Carvalho no Público, “As crianças não aprendem se não forem tocadas nos seus corações”. Lê-se no “lead” da peça, “Alberto M. Carvalho é uma espécie de ministro da Educação de Miami-Dade, que defende a equidade. Para isso, luta por criar todas as condições para que o aluno consiga ter sucesso. Da ida ao médico ao jantar, sem esquecer a oferta de um ensino de qualidade. A escola ideal existe, acredita, foi ele que a criou”.
A propósito da reflexão que a entrevista justifica nestes tempos duros em que para muitos falar destas coisas é perda de tempo, entendem que os professores entregam conteúdos e alguns alunos aprendem e os outros, paciência, vão para outros caminhos pois nem todos "têm jeito" para a escola, umas notas repescadas.
As alterações nos estilos de vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco amigáveis para alunos mas também para professores como múltiplos estudos evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo. A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores que nos marcaram pela positiva é pelo que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
Sendo certo que precisamos de ajustamentos regulares no que fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não “inovemos” tanto, não queiramos tantos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender e serão gente de bem.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

O DIA DA ESPIGA


Como dizia Camões o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.
Hoje passa o Dia da Espiga, como se dizia quando era pequeno para referir a Quinta-feira da Ascensão.
Acho que já muito pouca gente repara no Dia da Espiga, como já nenhuns miúdos aparecem a pedir "Pão por Deus" no 1º de Novembro, o Dia de Todos os Santos.
Voltando ao Dia da Espiga e a umas dezenas de anos atrás, na minha casa íamos sempre buscar a sorte prometida no ramo da Espiga. Com o meu pai, pegávamos nas bicicletas, na altura o meio de transporte familiar, e íamos à quinta onde vivia a Avó Leonor apanhar o ramo da Espiga, papoilas, flores silvestres, sobretudo malmequeres amarelos e brancos, o que se encontrasse de espigas de cereais e o ramo de oliveira.
Fazia-se o ramo atado com ráfia, arranjávamos sempre mais do que um para oferecer aos vizinhos e colocava-se pendurado lá em casa por cima da mesa do jantar como chamariz da sorte. Saía apenas quando era substituído pelo novo ramo da Espiga. Nunca me lembro de termos conseguido associar a presença do ramo ao que de bom nos ia acontecendo, mas o ramo da Espiga lá estava e a tradição era sempre cumprida.
Nas novas qualidades que o mundo vem tomando, não parece que possam caber minudências como andar no campo, se houver campo, à cata de flores, espigas e um raminho de oliveira. Não sei se é bom, ou se é mau, mas eu gostava de ir à Espiga, mesmo se não confiava muito na sorte.
Resta dizer que o ramo da Espiga chegou há pouco vindo do Alentejo, aqui por casa algumas tradições mantêm-se.

DO FECHAMENTO DE ESCOLAS


Todos os anos vamos sabendo do encerramento de escolas, deste ano mais dois exemplos, os jardins-de-infância em zonas rurais do Concelho de Lamego e a Escola Primária de A-do-Pinto (pré-escolar e primeiro ciclo) e o jardim-de-infância de Vales Mortos do Concelho de Serpa serão encerrados apesar da forte discordância dos autarcas das comunidades envolvidas. Provavelmente existirão outras escolas e jardins-de-infância que mais ou menos discretamente serão encerradas.
É sempre com tristeza que leio sobre o fechamento das escolas embora também o compreenda em algumas situações. Algumas notas.
Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento histórico que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento. Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo. Parece pois ajustada a decisão de em muitas comunidades proceder a uma reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social promovem a litoralização e desertificação do interior. Apostas políticas erradas não contrariam este processo, antes pelo contrário, promovem-no fechando os equipamentos sociais, incluindo as escolas, uma das formas evidentes de fixação das pessoas. Cria-se assim um ciclo sem fim, as pessoas partem, fecham-se equipamentos, as pessoas não voltam ou continuam a partir.
Seria fundamental a coragem e a visão para outros caminhos.
Por outro lado, afirmo-o com frequência, a concentração excessiva de alunos não ocorre sem riscos. Para além de aspectos como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, importa não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso escolar e exclusão, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental como bullying.
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode assentar em critérios generalizados esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para o jogo político.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

QUERIDA FAMÍLIA, AMIGOS E CONHECIDOS


Foram conhecidos dados do Projecto Rede Care da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima direccionado para a situação de abusos sexuais dirigidos a crianças e adolescentes no período entre 2016 e Maio de 2019. No total foram apoiadas 881 crianças e adolescentes vítima deste tipo de violência.
O número de situações que chegam à APV tem vindo aumentar durantes este período, em 2016 recebeu 195 novos pedidos de ajuda, em 2017 foram 251, em 2018 registaram-se 301 e até Maio de 2019 já se registar 131 novas situações o que dá uma média mensal superior à dos anos anteriores.
De acordo com a responsável por esta área de investigação “Tem havido muito mais participações. Vêm sobretudo da família das vítimas mas também das escolas e comissões de menores."
Na verdade continua com uma regularidade impressionante a revelação de casos de abusos sexuais sobre crianças e adolescentes. Como os estudos nesta área sempre reconhecem a maioria dos abusos sexuais sobre crianças ocorre nos contextos familiares e envolve família e amigos, não em instituições que, provavelmente na sequência do caso Casa Pia, até se terão tornado mais atentas e eficazes na prevenção de abusos, embora continuem, evidentemente, a acontecer como tem sido divulgado.
Os dados agora conhecidos reportam que maio maioria dos crimes, 54,1% ocorre em contexto familiar e quando fora deste contexto, 39.9% a maioria dos agressores é alguém conhecido da vítima. Dito de outra maneira na maior parte dos casos de abuso é da responsabilidade de pessoas que a criança ou adolescente conhece e, em princípio, confia.
Apesar das mudanças verificadas em termos legais e processuais, a fragilidade ainda verificada na criação de uma verdadeira cultura de protecção dos miúdos leva a que muitos estejam expostos a sistemas de valores familiares que toleram e mascaram abusos com base num sentimento de posse e usufruto quase medieval.
Muitas crianças em situação de abuso no universo familiar ou por pessoas conhecidas ainda sentem a culpa da denúncia das pessoas da família ou amigos, a dificuldade em gerir o facto de que pessoas que cuidam delas lhes façam mal e a falta de credibilidade eventual das suas queixas bem como das consequências para si próprias, uma vez que se sentem quase sempre abandonadas e sem interlocutores em que possam confiar ou ainda o medo das consequências da denúncia.
A este cenário acrescem os riscos que as novas tecnologias vieram introduzir, sendo conhecidos cada vez mais casos em que a internet é a ferramenta utilizada para construir o crime.
Neste quadro, para além da eficiência dos sistemas de justiça e apoio, continua a ser absolutamente necessário que as pessoas que lidam com crianças, designadamente na área da saúde e da educação, sejam capazes de “ler” os miúdos e os sinais que emitem de que algo de menos positivo se passa com eles.
Esta atitude de permanente, informada e intencional atenção aos comportamentos e discursos dos miúdos é, do meu ponto de vista, uma peça chave para minimizar a tragédia dos abusos sobre as crianças e o enorme sofrimento provocado.

terça-feira, 28 de maio de 2019

OS PILHA-GALINHAS


Li com alguma curiosidade que a Autoridade Tributária em colaboração com a GNR montou uma operação numa rotunda da zona norte em que verifica se os condutores têm dívidas às Finanças. Ainda de acordo com a notícia, em caso de dívida os “delinquentes” são “convidados a pagar” e não o fazendo podem ver a sua viatura penhorada.
Como cidadão não estranho iniciativas no sentido da cobrança de dívidas fiscais. Mas uma operação desta natureza é patética e insulta a inteligência para além de, ao que parece, ser de duvidosa legalidade.
Em primeiro lugar, as grandes dívidas ao Fisco serão de devedores associados a indefinidas “sociedades”, são na casa dos muitos milhares ou milhões e quase sempre ao abrigo de manhosos esquemas de evasão e branqueamento fiscal com a cobertura eficiente de ardilosos esquemas sustentados nas armadilhas da lei que diligentemente é definida com o apoio de bem pagos “especialistas em fiscalidade amigável”.
A probabilidade de apanhar devedores deste calibre numa operação destas parece-me mínima mas talvez seja essa a intenção, apanha-se uns pilha-galinhas com dívidas menores, dá-se uma prova de “força” e a coisa até parece funcionar.
Não, não funciona, isto é uma prova de fraqueza, de ineficiência, uma tentativa de tapar o Sol com uma peneira.
Uma nota final para a decisão tomada pelo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais mandando cancelar a “operação” … quando ela já tinha terminado ao que parece com a penhora de dois carros e camião e mais uns trocos recebidos. Ainda assim, uma medida de bom senso.
Coisas desta terra onde acontecem ... coisas.

A HISTÓRIA DO NINGUENZINHO


Quando nasceu, alguém exclamou que parecia um Ninguenzinho e assim ficou, Ninguenzinho. Manteve-se sempre mais pequeno que os miúdos da sua idade. Contrariamente ao que as pessoas esperam de miúdos pequenos o Ninguenzinho era o mais apagado e discreto dos miúdos, quase não se dava por ele. Como sabem, as pessoas preocupam-se fundamentalmente com os muitos bons e com os muito maus e por isso, praticamente, não reparavam no Ninguenzinho.
A escola foi cumprida a um canto, triste e sem que alguém, alguma vez, se lembrasse de uma palavra ou gesto de apreço ou incentivo ao Ninguenzinho. Como sabem na escola, notam-se e merecem atenção sobretudo os muito bons alunos e os muito maus alunos.
Fez-se adulto como sempre foi ao crescer, num canto, triste e na sombra. Como sabem, as pessoas reparam sobretudo naqueles que brilham, por coisas boas ou por coisas más.
O Ninguenzinho manteve-se sempre só, sem família sua e sem amigos seus. Como sabem, as pessoas reparam mais nos que têm gente à volta, por boas ou más razões.
No dia em que o Ninguenzinho deixou de aparecer, ninguém reparou na sua falta. Como sabem, as pessoas só notam a falta de quem é alguém, não de quem é um Ninguenzinho.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

CRIANÇAS DESAPARECIDAS


O calendário das consciências determina que o dia 25 de Maio seja o Dia Internacional da Criança Desaparecida. Passado o fim-de-semana eleitoral algumas notas sobre este inquietante universo.
Ao que parece e felizmente estão a registar-se em Portugal menos casos de crianças e adolescentes desaparecidos. No entanto, e em termos mais globais a tragédia que envolve o desaparecimento de crianças no âmbito da crise dos refugiados assume proporções alarmantes e que são uma acusação fortíssima à mediocridade das lideranças mundiais
A maioria das situações de desaparecimento de crianças em Portugal tem um final positivo, o desaparecimento é temporário e uma reacção a incidentes pessoais ou a resultados escolares.  Lamentavelmente, nem sempre os processos decorrem assim, recordemos as tragédias mais mediatizadas que envolveram o Rui Pedro desaparecido há mais de 20 anos em Lousada no norte de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve, dos quais nada se sabe sobre o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Merece ainda registo o aumento significativo de crianças desaparecidas através do rapto parental em contexto de separações familiares com algo grau de litígio e que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em particular para os mais vulneráveis, as crianças.
Situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann são absolutamente devastadoras numa família. Nós, pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e neste contexto sem minimizar a sua carga dramática, creio que é também muito importante não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas que, por estranho que possa parecer, estão à vista. São situações com contornos menos trágicos e óbvios que por desatenção passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores, de nós, e passam completamente despercebidas, são as que designo por crianças transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. As razões são muitas e as mais vulneráveis tornam-se mais transparentes. Não estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.

DAS EUROPEIAS


Dos resultados das eleições europeias e sem pretensão de análise, por falta de engenho e arte seria impossível concorrer com as centenas de opinadores, politólogos, senadores, comentadores, especialistas em assuntos europeus, etc., duas notas telegráficas.
Em primeiro lugar a preocupante taxa de abstenção que apesar da subida de votantes se mantém demasiado alta.
Da campanha e como tem sido habitual em campanhas anteriores não resultou o esclarecimento sobre que modelos de desenvolvimento sustentam os diferentes partidos e famílias políticas europeias, como equilibrar as necessárias políticas sociais com o funcionamento liberal das economias e como estes equilíbrios se reflectirão na vida das pessoas, qual o compromisso entre a autonomia dos diferentes países e o centralismo normalizador e burocrata de Bruxelas, etc.
Como escrevi há dias, a campanha mostrou um espectáculo degradante e cacofónico. Os discursos, insisto nas excepções, foram de uma mediocridade notável e centrados excessivamente em “não assuntos”, ataques pessoais e insultos, afirmações manhosas que compõem uma democracia com défice de solidez ética, competência e visão.
Este cenário terá dado um forte contributo para uma inquietante abstenção que leva a que uma minoria, parte mobilizada também por valores e convicções mas outra parte influenciada por manipulação e desinformação possa decidir sobre os destinos de uma maioria desinteressada e cansada. Sai derrotada a cidadania.
Uma segunda nota para registar o tombo eleitoral dos partidos de centro-direita, PSD e CDS-PP e também da descida. Do meu ponto de vista, estes resultados sugerem que apesar da narrativa de que “There Is No Alternative”, as pessoas que foram votar continuam a achar que sim, afinal havia outra alternativa e com outros actores.
A ver vamos o impacto destes resultados no clima político dos próximos meses e nas legislativas que estão já aí à porta.

domingo, 26 de maio de 2019

POR ELES E EM NOME DELES


Ainda durante a manhã recebemos uma foto em que os meus netos estavam com um ar feliz a acompanhar o pai no exercício do voto.
Quando olhámos para eles e para o sorriso que gostávamos que se fosse mantendo ao longo de um futuro amigo deles e dos outros como eles percebemos que era impossível não ir votar.
Não queremos carregar o fardo de por omissão podermos entregar os nossos destinos e os deles a quem se move num quadro de valores onde não cabem todos os sorrisos de todas as crianças do mundo.
Está cumprido o dever e senti uma ponta de optimismo pela afluência, na minha mesa de voto estava uma fila ainda que não muito grande. Não me importei de esperar.

SIM, SÃO CAPAZES


Estas não são notícias irrelevantes, pelo contrário, são da maior inspiração e justificam a permanente necessidade de reflexão sobre o universo das pessoas com necessidades especiais.
É verdade.
Sem ser por magia ou mistério quando acreditamos que as pessoas, mais novas ou mais velhas, com algum tipo de necessidade especial, são capazes, não se "normalizam" evidentemente seja lá isso o que for, mas são, na verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos ou esperamos. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem, que eles são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso possível e níveis de realização significativos.
E isto envolve professores do ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas, empregadores e toda a restante comunidade.
No entanto, em algumas circunstâncias o trabalho desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da sua (nossa) própria representação sobre este grupo de pessoas, isto é, não acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam situações e contextos de aprendizagem e formação, tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade). Estas dimensões devem ser operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação justamente para que acomodem a diversidade das pessoas.
É neste sentido que devem ser canalizados os esforços e os recursos que deverão, obrigatoriamente, existir. Não, não é nenhuma utopia. Muitas experiências noutras paragens, como a que serve de base a este texto, mas também por cá mostram que não é utopia.  
O primeiro passo é o mais difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e entender que é assim que deve ser.

sábado, 25 de maio de 2019

DIA DE REFLEXÃO


Cumpre-se o dia da reflexão, véspera das eleições europeias. Terminou uma campanha eleitoral que praticamente não existiu. Talvez pudéssemos aproveitar o dia da reflexão para, por um lado, para decidir ir mesmo votar e, por outro lado, para pensar como exigir que uma campanha eleitoral seja o que se espera, apresentação e discussão de ideias e projectos que contribuam para o bem-estar e desenvolvimento colectivos. Assistimos, isso sim e com algumas excepções, a um espectáculo degradante e cacofónico que terá dado um forte contributo para uma inquietante abstenção que leva a que uma minoria, parte mobilizada também por valores e convicções mas outra parte influenciada por manipulação e desinformação possa decidir sobre os destinos de uma maioria desinteressada e cansada.
Os discursos, insisto nas excepções, foram de uma mediocridade notável e centrados excessivamente em “não assuntos”, ataques pessoais e insultos, afirmações manhosas que compõem uma democracia com défice de solidez ética, competência e visão.
No então e felizmente continuámos a ter esse estimulante fenómeno típico das campanhas eleitorais que dá pelo nome de “arruadas”, o passeio de um qualquer candidato por espaços públicos, sobretudo os mais frequentados.
É certo que em qualquer altura a deslocação de uma figura política ao que gostam de chamar o “país real” é já uma amostra, mas em campanha pela conquista de mais um voto o espectáculo é deveras estimulante embora talvez resulte na conquista de mais uma abstenção. Quando olho para aquelas imagens acabo por lhes encontrar alguma piada.
Tentem entender o meu ponto de vista e reparem, por exemplo, no comportamento e atitude das figuras de segunda linha que aparecem sempre coladas aos “importantes”, aos candidatos ou a estrelas, “ex-líderes” por exemplo. Normalmente, seguem um passo atrás de qualquer entidade que leve uma câmara de televisão a segui-la. Os figurantes constituem um grupo numeroso. Por este facto, nem sempre cabem no ecrã e então, assiste-se, por vezes de forma pouco discreta ao esforço para aparecerem. Compõem um sorriso circunspecto e enquanto a entidade é entrevistada é ver os figurantes a inclinar a cabeça em sinal de aprovação ao mesmo tempo que procuram compor um ar inteligente e condescendente para com a comunicação social. Têm a secreta esperança de merecer um primeiro plano que constitua prova de vida.
Acho também muito estimulante o papel dos “operacionais”, quase sempre os elementos das “juventudes partidárias” os que fazem o alarido, agitam as bandeiras e gritam as palavras de ordem e que, numa preventiva iniciativa para que não fiquem tão à rasca mais tarde, vão fazendo a sua formação que lhes permita uma carreira aparelhística ou, pelo menos, a esperança de um empurrãozinho na vida profissional.
Uma outra parte do espectáculo é o comportamento dos anónimos que se cruzam com a arruada e expressam o que lhes vai na alma face às cores do desfile fazendo com que a arruada pare ou acelere o passo em busca de melhor ambiente. Outra gente anónima que entra na arruada é a que se bate pelos brindes que obrigatoriamente são distribuídos pelas segundas figuras da comitiva. A luta e o melhor posicionamento pela conquista de um boné, saco ou esferográfica é um exemplo de empreendimento e esforço que se esperam recompensados.
Mas o que eu gosto mesmo, é de ver o entusiasmo com que a generalidade dos candidatos é abraçado e abraça muitíssimas vezes, distribui beijinhos pelas criancinhas e velhinhas com um carinho e de uma forma tão genuína que enternece.
As feiras e mercados, terreno para estrelas como o famoso Paulinho das feiras, e as praças e ruas principais são os palcos escolhidos. Este ano até tivemos um líder partidário que em apoio ao seu candidato foi até à praia de fato e gravata, líder que é líder não descura a imagem de sobriedade.
Não sei se vos convenci, mas como diz o povo, “cá p´ra mim” as arruadas são mesmo o que de melhor as campanhas eleitorais têm. O resto é conhecido e quase sempre pouco interessante, lamentavelmente.
Por fim seria desejável que amanhã cumpríssemos um direito que não podemos alienar, o voto.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

A ESPERANÇA SAIU À RUA (2)


A esperança voltou a sair à rua. Tivemos uma segunda greve climática, nome estranho este, que se terá realizado em 50 localidades em Portugal e em mais de 100 países.
Adolescentes e jovens de muitos mundos desta Terra que é única e está fortemente ameaçada vieram para a rua dizer que é preciso parar. Não temos alternativa a esta Terra e é nela que tem de existir futuro para eles.
É importante a posição e esperemos que se torne num movimento robusto de exigência e promoção de mudança e que a mudança não se esgote na questão crítica das alterações climáticas e da sustentabilidade. Acho curioso curioso que boa parte desta gente trouxe a esperança à rua não tem ainda capacidade para votar e com esse voto alterar políticas. Alguns dizem que não têm maturidade para escolhas como o voto. Curioso como a gente madura se tem comportado e arruinado o planeta, ou seja, o futuro dos imaturos que protestam. 
Muitas vezes, quando olho para os meus netos, penso o que estará lá mais para a frente à espera deles. Aquilo que eu e a minha geração fizemos não é particularmente animador e chegámos a pensar que tínhamos tudo nas nossas mãos.
Neste mundo mágico da avozice e em múltiplas conversas com o Simão, quase seis anos de experiência de uma intensidade iluminada, quando ele faz perguntas ou sugere respostas, ideias, planos, actividades sem fim acrescenta com muita frequência, “é não é, avô?”. E o avô, eu, encantado com a responsabilidade do “saber” securizante dos Velhos digo, “É Simão, é assim, tudo bem”.
Um dia destes, provavelmente daqui a algum tempo, talvez me questione, “Avô, eu e o meu irmão vamos ter uma terra bonita para a gente viver. É, não é Avô?”. Terei de lhe responder, “Acho que sim Simão, tu, o teu irmão e todos os miúdos do mundo vão ter uma terra bonita para viver, mas terão ser vocês a cuidar dela e comecem já.”
Não se distraiam gente, terão que ser vocês.

ESTAR PRÓXIMO DOS ALUNOS QUANDO ELES ESTÃO LONGE


O trabalho desenvolvido na Escola Fonseca Benevides, na qual fui muito bem recebido há uns dias, por um grupo de professores explorando às potencialidades do “ensino à distância” e interessante e merece divulgação. Pretendem e vão conseguindo não perder alunos em risco severo de abandono e insucesso mantendo contacto e promovendo aprendizagem.
Também em educação, nem sempre estar distante significa estar longe, nem estar perto significa estar próximo. Os bons professores sabem isto e mostram-no com regularidade. Muitos alunos sentem-se distantes quando estão dentro das salas de aula e outros alunos estando longe da sala de aula podem sentir alguém próximo. A proximidade faz a diferença em muitas circunstâncias, também na escola é a forma de chegar a todos os alunos. Como sabem, existem alunos que a escola não alcança e alunos que não alcançam a escola.
Ainda relativamente a estas formas de estar próximo dos alunos quando eles estão longe, relembro o trabalho da Professora Adelina Moura com quem tive a sorte de partilhar a presença num TEDxLisboaED em 2014.


quinta-feira, 23 de maio de 2019

O AUMENTO DOS COMPORTAMENTOS ANTI-SOCIAIS EM ADOLESCENTES


É conhecido o relatório de actividade das CPCJ em 2018. Comparativamente a anos anteriores as alterações não significativas para a generalidade da tipologia de situações mas alguns dados merecem particular atenção.
A negligência é motivo para 43.1% dos casos reportados, em segundo lugar temos os comportamentos de natureza anti-social do adolescente ou jovem, 18.7% (2606 casos) e em terceiro na frequência está o não cumprimento do direito educação, absentismo e abandono escolar (17.4%, 2422 casos).
É evidente que qualquer situação reportada é grave mas merece particular referência o aumento que de ano para ano se está a verificar nos “comportamentos de risco, anti-sociais”. Nos últimos cinco anos verificou-se um aumento ao ritmo de 3% em cada ano, as situações concentram-se na faixa entre os 15 e 17 anos e de acordo com a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens consideram-se "situações de comportamento social incontrolável e indisciplinado, consumos de álcool, estupefacientes e adição às novas tecnologias".
O aumento destas situações merece a reflexão e, sobretudo, uma intervenção preventiva e remediativa que minimize a sua emergência e permita um maior controlo dos riscos e, desejavelmente a reabilitação dos comportamentos sociais adequados e saudáveis.
Parece-me importante que os comportamentos evidenciados por estes adolescentes não são a causa dos seus problemas, são uma consequência do seu mal-estar. Este entendimento não tem a ver com nenhuma intenção de desresponsabilização dos jovens ou com uma visão idealizada e romântica destas idades.
Sabemos que por várias razões, os outros dados do relatório ajudam a entender, existem contextos familiares pouco saudáveis e os recursos disponíveis nas escolas não são suficientes (nem adequados muitas vezes) para lidar com estas situações.
Sem querer desculpar ou branquear comportamentos creio que o nosso quotidiano vive inquinado com sementes de mal-estar que por um qualquer "gatilho" ou circunstância, por vezes irrelevantes, se transformam em comportamentos anti-sociais ou mesmo violência dirigida a quem quer que seja, às vezes contra si próprios.
Vai sendo tempo de nos interrogarmos sobre os tempos que vivemos, os valores que os informam, os modelos de discursos e comportamentos que evidenciamos, dos anónimos às elites e desde logo com as crianças, os atropelos à dignidade e direitos, a ausência de projectos de futuro que nos permitam a esperança e substituam o vazio em que muita gente, mais velha ou mais nova, vive. É neste caldo de cultura que nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar.
Estas sementes estão “incubadas” muitas vezes desde a infância e adolescência e podem ir passando despercebidas até que o peso interior leva à “necessidade” da sua exteriorização e um qualquer “gatilho” vai detonar um conjunto de comportamentos que podem mesmo ser de extrema violência.
Sabemos que a prevenção e programas de natureza comunitária, socioeducativa, têm custos mas importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da pobreza, exclusão, delinquência continuada e da insegurança.
É essencial uma atenção precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA


A banca nos últimos anos tem sido um pântano de corrupção e negócios manhosos envolvendo a restrita “família” que deste contexto beneficia tendo como certo que quando a coisa corre mal somos nós que “ajudamos” os bancos e não o patético mas “esperto” Berardo.
É em cenários desta natureza que também se gera e alimenta o mal-estar que se vai sentindo por diferentes paragens.
O quadro internacional é assustador, os movimentos populistas, extremistas e xenófobos ganham espaço e capitalizam apoios com a criação de “responsáveis” dessa inquietação e mal-estar. Já conhecemos esta narrativa e os seus efeitos trágicos. A mediocridade das lideranças, a manipulação e desinformação através das redes sociais e da mais despudorada e criminosa campanha de produção de “realidade” a que muita gente adere é mais um poderoso ingrediente.
Julgo que o caminho terá necessariamente de passar pelo recentrar do desenvolvimento no bem-estar das pessoas que liderará o funcionamento das economias e dos mercados abertos. Não podemos aceitar o aumento da concentração da riqueza e das disparidades em escala global ou nacional, a insustentabilidade do ambiente, a exclusão e a pobreza alimentados com os mercados a liderar.  As lideranças económicas, os interesses dos mercados, os modelos políticos de desenvolvimento que se orientam para resultados e mercados e não para pessoas, promovem riqueza sem que a sua distribuição tenha efeitos sérios na desigualdade social. Aliás, é claro que a distribuição da riqueza criada quer em países mais ricos, quer em países mais pobres, mostra justamente que a esmagadora maioria da riqueza criada continua concentrada nas mãos de uma pequena minoria.
Urge um regresso à política no sentido mais robusto e ético do termo, a promoção do bem- estar das pessoas.
Não podemos falhar, o custo será demasiado elevado.

COM UM BOCADINHO DE SORTE


Com um bocadinho de sorte teria nascido numa família que o desejasse, amasse e onde não representasse um estorvo.
Com um bocadinho de sorte teria brincado quando foi a altura de brincar.
Com um bocadinho de sorte teria passado por uma escola que sentisse sua e onde se acreditasse que era capaz.
Com um bocadinho de sorte teria encontrado os amigos certos que não o levassem por descaminhos.
Com um bocadinho de sorte teria encontrado alguém que gostasse dele e ficasse a seu lado.
Com um bocadinho de sorte não teria a vida, má e feia, em que mergulhou.
Com um bocadinho de sorte teria percebido que o consumo o consumiria.
Com um bocadinho de sorte não teria estado naquele momento, naquele sítio.
Com um bocadinho de sorte não teria acabado assim, ainda novo.
Com um bocadinho de sorte teria sido gente.
(...)
Tantos miúdos que nascem e crescem sem um bocadinho de sorte. Dizem que é destino ... ou fado. Será que não conseguimos contrariar o destino?

terça-feira, 21 de maio de 2019

CHICO BUARQUE, PRÉMIO CAMÕES 2019


É impossível dissociar a atribuição do Prémio Camões 2019 a Chico Buarque do que hoje é o Brasil e dos tempos negros e inquietantes que se vivem naquela terra imensa.
No entanto, acredito que um dia …
Vai ser bonita a festa pá
Ficarei contente.

DA FALTA DE PROFESSORES

Ao longo do ano lectivo têm sido recorrentes as notícias relativas às dificuldades de suprimir a falta de docentes em alguns grupos e níveis de ensino por parte das direcções escolares. As razões são múltiplas mas o cenário mostra que a narrativa tão “vendida” dos professores a mais talvez não fosse tão evidente e que, como sempre em educação, as contas sobre o número de professores necessários ao sistema nunca dão certo.
As dificuldades de “recrutamento” reportadas pelos directores referem também as condições de precariedade e de carreira ou da falta de docentes em algumas áreas disciplinares e o número significativo de docentes em situações de baixa médica.
Em Dezembro escrevi aqui um texto sobre esta questão que de há muito se anuncia a que chamei “Mayday, Mayday” tendo retirado o título de um artigo histórico de um dos meus Mestres, o Professor Joaquim Bairrão Ruivo que também o usou com o sentido que tem na aviação. A situação é mesmo grave.
Num trabalho divulgado no final de 2018 pela OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” retoma-se algo que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE, o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como escrevi várias vezes a este propósito, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Ao perfil dos docentes profundamente  inquietante em termos de idade acresce que como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente e altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional. Também o estudo da OCDE refere aspectos desta natureza e numa classe envelhecida o risco é, obviamente, mais elevado.
Na verdade, este cenário só pode surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse e burnout.
Este quadro é inquietante, uma população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação, contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida, cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Com a previsível aposentação de milhares de professores num prazo relativamente curto teremos uma significativa falta de docentes. O problema é que muito pelo contributo de opinadores e por efeitos de algumas das políticas públicas em matéria de educação a profissão de professor perdeu capacidade de atracção.
Seria desejável que não nos esquecêssemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

DA REUTILIZAÇÃO DOS MANUAIS ESCOLARES


Neste final de ano lectivo o Tribunal de Contas alerta para a insustentabilidade da medida de gratuitidade dos manuais escolares caso não se eleve substancialmente a taxa de reutilização que terá ficado pelos 4% dos livros distribuídos neste ano lectivo. Nada de novo, estamos habituados a que as contas da educação nunca dêem certas.
Para além de decisões de muitos pais e de algumas escolas no sentido de não reutilizarem manuais, uma questão significativa é a dificuldade de produzir manuais com características que sejam amigáveis da reutilização apesar das orientações, agora mais explícitas para o próximo ano, no sentido de que a potencialidade de reutilização seja real.
Como disse há algum tempo, a operacionalização deste caminho, a reutilização dos manuais escolares, não seria fácil.
A elaboração dos manuais escolares, um importante nicho de mercado, sempre considerou a sua não utilização. De facto, a quantidade e o tipo de trabalho que os alunos realizam no manual impede a sua reutilização. Acresce que as mudanças frequentes quer nos conteúdos curriculares, quer nos manuais aprovados nos diferentes agrupamentos e escolas serão também um obstáculo à sua reutilização.
Neste sentido, a gratuitidade dos manuais escolares e a sua reutilização exigem um outro olhar sobre os manuais, considerando quer os conteúdos e apresentação, quer a utilização. As práticas já desenvolvidas em muitas salas de aula e a experiência de outros sistemas educativos mostra que é possível apesar da evidente resistência dos donos do mercado do livro escolar.
Assim, e com tantas vezes tenho afirmado creio que o caminho a percorrer em matéria de manuais escolares deveria incluir estratégias que tentassem contrariar o que costumo designar por uma excessiva “manualização” do ensino que emerge de práticas pedagógicas pouco diferenciadas muito decorrentes de conteúdos curriculares que apesar do “mantra” da flexibilidade curricular ainda são “passados” de forma prescritiva e normalizadora. Seria desejável atenuar a fórmula predominante, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.
Em algumas circunstâncias, o número de alunos por turma é também um factor contributivo para este cenário. A adequação do número de alunos por turma ao abrigo de uma verdadeira autonomia das escolas e dos docentes, permitiria a alunos e professores um trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos com base noutras fontes incrementando, por exemplo, a acessibilidade a conteúdos e informação diversificada que as novas tecnologias oferecem.
A construção dos próprios manuais, tendo um outro papel no trabalho de alunos e professores, pode evitar a sua utilização como suporte do trabalho dos alunos e, assim, não impedir a sua reutilização. Aliás, o mercado também é fértil em materiais como “cadernos de actividades”, “fichas”, “Cds”, etc. que são suportes para o trabalho dos alunos
A questão é que os manuais escolares constituem um importantíssimo nicho de mercado potenciado por esta enorme quantidade de materiais que os acompanham. Como também é previsível, numa sociedade de consumo e desperdício a cultura de reutilização é pouco sólida e alimenta a resistência à reutilização é grande e dificulta o surgimento de outro tipo de manuais ou mesmo o seu abandono.
É também sabido que a reutilização de manuais é prática já verificada em muitos países.
Os manuais escolares são disponibilizados pelas escolas e devolvidos pelos alunos no final do ano lectivo ou da sua utilização. As famílias são responsabilizadas pelo seu eventual dano ou extravio e ficando, assim, com "folga" para aquisição de outros materiais, livros por exemplo, um bem com pouca presença em muitos agregados familiares.

domingo, 19 de maio de 2019

BASICAMENTE DE ACORDO COM PACHECO PEREIRA, "A HOSTILIDADE AOS PROFESSORES"


Desta vez também estou de acordo com o essencial do texto de Pacheco Pereira no Público, “A hostilidade aos professores”, sobre o mundo dos professores e do seu universo profissional.
“(…)
Por fim, e o mais importante, há uma desvalorização do papel do professor, de ensinar, de transmitir um saber. Vem num pacote sinistro que inclui o falso igualitarismo nas redes sociais, o ataque à hierarquia do saber, o desprezo pelo conhecimento profissional resultado de muito trabalho a favor de frases avulsas, com erros e asneiras, sem sequer se conhecer aquilo de que se fala
(…)
Na verdade, boa parte da opinião publicada sobre o universo dos professores e das condições do seu exercício profissional é sustentada pela arrogância da ignorância ou por agendas implícitas com interesses outros.
Como já tenho dito, entendo que alguns dos problemas dos professores são também problemas nossos e tanto mais quando está em causa a qualidade da escola pública e do trabalho de alunos, professores e pais.
Relembro, na mesma linha que Pacheco Pereira, a importância essencial e a responsabilidade que o trabalho dos professores assume na construção do futuro. Tudo passa pela escola e pela educação. Assim sendo, as mudanças na educação só podem ocorrer e ser bem-sucedidas com o envolvimento dos professores.

sábado, 18 de maio de 2019

A CHAMA IMENSA

A alma benfiquista acendeu de novo a chama imensa. Campeões pela trigésima sétima vez.









Com a estrada que já levo percorrida foram vários os títulos de campeão a que fui assistindo, como todos os outros as circunstâncias dão-lhes sabores diferentes. Uma palavra de apreço à entrega e valor da equipa, à competência de Bruno Lage, ao seu  bom senso, falou quanto baste, falou diferente e, sobretudo, calou quanto baste.
Um agradecimento ao fortíssimo contributo que muitos discursos de responsáveis de outras cores  deram a este título emprestando-lhe, de facto, um sabor especial.

AGRESSÃO A UMA PROFESSORA. Mais um episódio

Andam negros os tempos para os professores.
As notícias sobre agressões a professores, cometidas por alunos ou encarregados de educação, vão chegando com alguma frequência à comunicação social.
Desta vez aconteceu numa escola básica do concelho de Gaia. A mãe e a avó de uma aluna agrediram seriamente uma docente na presença de vários alunos.
Cada um destes recorrentes episódios é, obviamente, um caso de polícia mas não pode ser “apenas” mais um caso de polícia e julgo que, mais do que ser notícia, importaria reflectir nos caminhos que seguimos.
Algumas notas que apesar de repetidas me parecem ainda justificadas dada a frequência e gravidade destes episódios. Esta questão, embora sempre objecto de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e de análise pouco compatível com um espaço desta natureza.
Começo por uma breve reflexão em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade que me parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente, responsabilidades acrescidas e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes ou com agendas implícitas, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da percepção social de autoridade dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais. Os últimos tempos têm sido, aliás, elucidativos.
Esta fragilização tem, do meu ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais.
Finalmente, importa considerar, creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização uma das dimensões identificadas nos sistemas educativos melhor considerados.
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de punição e responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

AS VOLTAS DA ESTRADA

Quando passados exactamente 50 anos se volta à escola onde cumprimos parte do secundário para trabalhar com professores do agrupamento a sensação é algo estranha.
Foi há tanto tempo, foi há tão pouco tempo, foi tão pouco tempo.
E tal como há 50 anos em que gostava das conversas que mantinha naquela escola, o na altura chamado Liceu D. João de Castro, também desta vez gostei da conversa com os professores.
Por outro lado e contrariamente acontecia com regularidade naqueles tempos espero que desta vez os professores tenham gostado da minha conversa.
As voltas da estrada têm circunstâncias curiosas. Foi giro.

ENSINO PRIVADO PARA QUEM?


Voltando de novo ao relatório Balancing School Choice and Equity elaborado pela OCDE com base nos dados do PISA de 2015 confirma-se o esperado, Portugal é um dos países em que o ensino privado mais é frequentado por alunos oriundos de contextos familiares mais favorecidos. A existência de contratos de associação não parece interferir significativamente neste quadro pois em 2015 apenas cerca 3% dos estabelecimentos de ensino privado estavam envolvidos. Algumas notas.
Como referia há dois dias entendo que a existência de um subsistema de ensino privado é próprio de sociedades abertas e importante até como forma de pressão reguladora sobre a qualidade da resposta pública. Por outro lado, nem o ensino privado é garantia de qualidade nem o ensino público é o inferno. A excelência não é um exclusivo da escola pública nem do ensino privado e todo o sistema deve ser regulado.
Ainda no mesmo sentido reafirmo:
Só a educação e a rede pública de qualidade podem promover equidade e igualdade de oportunidades.
Só a educação e a rede pública de qualidade podem ser verdadeiramente inclusivas e receber TODOS os alunos.
Só a educação e rede pública podem chegar a todos os territórios educativos e a todas as comunidades.
Só a educação e rede pública de qualidade promovem mobilidade social em circunstâncias de equidade no acesso.
Para que tal possa ser cumprido a educação e a rede pública precisam de recursos materiais e recursos humanos valorizados e competentes.
A política educativa em cada momento histórico tem a inalienável responsabilidade de garantir que assim seja.
Os custos da educação e da rede pública de qualidade não são despesa, são investimento.
É isso que se exige. Em defesa da Educação e da Escola Pública. Em nome dos nossos filhos, dos filhos dos nossos filhos ...

quinta-feira, 16 de maio de 2019

DEVAGAR, DEVAGARINHO


Encontrei no Público uma entrevista curiosa, por assim dizer, a Carl Honoré, tido como um estudioso e “guru” do movimento “slow living”, a transformação do “devagar” numa filosofia de vida.
Mais uma vez lembrei-me de um colega de escola lá muito para trás no tempo que já aqui referi.
Como sabem, é hábito que ainda se mantém, quando somos pequenos criar alcunhas era bastante frequente e acontecia a propósito das mais variadas razões. Muitas vezes a alcunha, seja pelo som, pela graça ou pela apropriada designação, entranhava-se na relação, substituía o nome e acontecia até que algum tempo depois já nem o recordamos. Foi o caso do Lesma, de tal forma a designação se colou que não consigo lembrar-me com segurança do seu nome.
Neste caso, a elegante designação de Lesma foi-lhe atribuída pela primeira vez por um dos professores e dela nunca mais se livrou, passou de uma brincadeira a uma identidade.
O Lesma foi a pessoa mais vagarosa, mais tranquila, mais sem pressa, que alguma vez conheci. Era o último a chegar a qualquer lado, sempre com ar de quem era o primeiro e a tempo. Em qualquer tarefa ou jogo, coisas da escola ou brincadeiras fora da escola o Lesma era exasperante, sempre sem pressa, sempre o último.
Até a falar o Lesma era vagaroso, demorava um tempo que nos parecia infindo a acabar uma frase cujo final todos já adivinhávamos.
Provavelmente porque o nosso tempo era outro e apesar da sua lentidão perdi o rasto Lesma.
Hoje em dia, a vida acelerou-se, inventámos o stresse, o para ontem, o temos que fazer tudo e rápido, não podemos perder tempo, etc., o tempo tornou-se um bem de primeiríssima necessidade que quase ninguém tem. Quase ninguém está, vai ou vem com tempo.
Como reacção a este estilo de vida têm vindo a surgir movimentos e ideias que direccionados para diferentes áreas de funcionamento têm de comum a intenção de abrandar o ritmo. A palavra chave emergente é "slow", na alimentação, nas actividades de lazer, nos locais de trabalho. Multiplicam-se as ofertas mais ou menos exóticas, mais ou menos criativas, mas todas apostando nas milagrosas virtudes do "slow" e do “slow living” como defende Carl Honoré.
Ao ler a sua entrevista não pude deixar de recordar o Lesma. Na verdade e sem que qualquer de nós conseguisse perceber, o Lesma era um visionário, o primeiro que conheci e que só mais tarde reconheci.
Não tenho nenhuma convicção de que tenhamos de nos converter ao "slow living" mas é crucial que consigamos reconstruir a relação com o tempo, começando pelo tempo dos e com os mais novos.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

ESCOLHER OS ALUNOS


Lê-se no Público que de acordo com os dados de 2015 do PISA usados no Relatório “Balancing School Choice and Equity”, 28% dos directores de escolas públicas inquiridos e 82% de escolas privadas referem que o desempenho escolar dos alunos é tido em conta na admissão.
Nada de novo. Creio que actualmente a situação se terá atenuado devido a reajustamento dos critérios de admissão e também pelo abaixamento do número de alunos.
No entanto e apesar desta prática importa não esquecer que a escola pública é ainda a grande ferramenta da promoção da inclusão, da equidade e do combate à desigualdade.
Ainda que esta seja o caminho menos interessante para “fazer a diferença” é a escola pública que, de facto, faz a diferença na vida dos alunos.
Reafirmo que a existência de ensino privado sublinha a importãncia e constitui um factor de pressão sobre a qualidade na escola pública.
Assim as políticas educativas se desenhem neste sentido, valorizando a escola pública e todos os que nela trabalham, a dotem de recursos necessários, se definam os adequados dispositivos de apoio e regulação.

terça-feira, 14 de maio de 2019

DOS "CENTROS DE ESTUDO"


O terceiro período está terminar e aproxima-se a época de exames. Como costumo dizer, estes são o tempo das explicações, procura-se a “recuperação” que evite o “chumbo”, o “saltinho” até à excelência ou a preparação para os exames.
É também habitual que a imprensa se refira a esta questão. Uma peça no DN tem o sugestivo título “ESCOLA: COMO OS CENTROS DE ESTUDOS PODEM AJUDAR OS PAIS NESTES TEMPOS DIFÍCEIS”.
São apresentadas algumas experiências e quer pais, quer responsáveis referem o impacto positivo nos alunos, sobretudo no que respeita ao desempenho escolar. Os pais referem a importância de sentir que os miúdos estão apoiados e, sublinho, ocupados. No entanto, a peça,  naturalmente  sem intenção, esqueceu aqueles pais que não conseguem aceder a esta “ajuda”, é cara e está fora das suas possibilidades.
É verdade que a oferta é variada e, certamente, o custo também. Andar pela proximidade de muitas escolas essa abundância da oferta de “explicações” recorrendo designações muito variadas, “Centros de Estudo”, “Sala de Estudos”, “Academias”, “Ginásios”, etc., que provavelmente terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”.
O mercado está sempre atento.
Com alguma regularidade desloco-me a um local perto de uma escola básica integrada de dimensão significativa. Como não podia deixar de ser existem vários espaços para “explicações”.
Um deles, mesmo em frente à escola, divulga numa enorme montra um impressionante conjunto de serviços.Começa por afirmar que recorre a metodologias divertidas para aprender melhor.
Depois temos o elenco de respostas:
Explicações de todos os níveis
Centro de alto rendimento escolar
Preparação para exames
Estratégias educativas
Motivação e auto-estima
Gestão de ansiedade
Stresse nos exames
Mindfulness terapia
Actividades de férias
Confesso que fiquei esmagado. Escola e professores para quê?
Apesar de nada ter contra a iniciativa privada, desde que com enquadramento legal e regulada, várias vezes tenho insistido no sentido de se entender como desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos, ou seja, os centros de estudo, deveriam estar nas escolas. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem dentro do sistema.
Esta minha posição radica no entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e da falta de equidade como sucessivos relatórios nacionais e internacionais referem e de que aqui já falei.
A ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias pelo que é fundamental que as escolas possam dispor dos dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos.
As necessidades dos alunos poderiam ser atenuadas com o recurso a professores que já estão no quadro ou com contratos sucessivos sendo que muitos foram mesmo empurrados para fora. Também por esta razão a narrativa dos professores a mais é ... isso mesmo, uma narrativa.
De uma vez por todas, é necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa há investimento.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

CRIANÇAS EM RISCO, FUTURO EM RISCO


Há dias, uma peça do Expresso fazia referência a uma intervenção pública da Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, em que afirmou, “muito investimento ainda há por fazer" na protecção de menores” explicitando questões como a revisão da Lei Tutelar Educativa e das medidas de protecção de acolhimento residencial e familiar.
Muitas vezes tenho aqui referido a necessidade maior investimento e eficiência no âmbito da protecção de menores e sublinho também a importância do reforço dos recursos das CPCJ, a melhor integração e oportunidade das respostas a situações detectadas, uma adequação às mudanças e novas realidades na área dos Tribunais de Família e Menores, etc.
Como acentuou a Procuradora-Geral da República, "É, de facto, um domínio em que muito investimento há ainda por fazer e que se impõe que seja feito no sentido de que as crianças, os cidadãos com idade até aos 18 anos, são o futuro do país e o investimento que se faça neles é importantíssimo. É um investimento que tem retorno".
É ainda frequente a ocorrência de situações, por vezes com contornos dramáticos, envolvendo crianças e jovens que, sendo conhecida a sua condição de vulnerabilidade não tinham, ou não tiveram, o apoio e os procedimentos necessários. E acontece que depois de alguns episódios mais graves se oiça uma expressão que me deixa particularmente incomodado, a criança estava “sinalizada” ou “referenciada” o que foi insuficiente para a adequada intervenção. Em Portugal sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver ou minimizar os problemas das crianças referenciadas ou sinalizadas.
Como afirma, Benedict Wells no recente “O fim da solidão”, “Uma infância difícil é como um inimigo invisível. Nunca se sabe quando nos vai atingir”.

domingo, 12 de maio de 2019

O MELHOR PROFESSOR DE PORTUGAL


O calendário tem circunstâncias curiosas, num tempo em que os professores travessam tempos conturbados foi conhecido que no âmbito da iniciativa Global Teacher Prize Portugal o Professor Rui Correia (Escola Básica de Santo Onofre/Agrupamento de escolas de Raul Proença nas Caldas da Rainha) foi considerado o melhor professor de Portugal.
Sucede a José Jorge Teixeira, professor de Física e Química na Escola Secundária Júlio Martins em Chaves.
Uma saudação a Rui Correia e a recomendação para que se leiam as peças sobre o seu trabalho e, sobretudo, sobre a sua pessoa.
Como já referi o ano passado acho que este tipo de iniciativas pode ter algum significado sobretudo como valor simbólico da necessária valorização e reconhecimento do trabalho dos professores num tempo em que tal reconhecimento e valorização nem sempre são sólidos e expressos, antes pelo contrário. No entanto, não acredito muito na ideia do melhor professor de …  
A esmagadora maioria dos professores é competente e empenhada nesse trabalho, procurando desenvolvê-lo com qualidade, rigor e eficácia, sem facilitismos, contrariamente ao que tantas vezes se afirma de forma ignorante. Todos os dias, em todas as escolas muitos professores fazem trabalhos de notável qualidade que mais frequentemente apenas são valorizados e conhecidos … pelos seus alunos, todos os alunos.
Quando qualquer de nós faz um esforço para recuperar lembranças positivas sobre os professores, poucos ou muitos, com que nos cruzámos durante o nosso trajecto escolar, creio que quase todos nos lembramos de professores que continuam na nossa lembrança não só pelos saberes escolares que nos ajudaram a adquirir mas, sobretudo, por aquilo que representaram e foram para nós, ou seja, pela forma como nos marcaram. Cada um desses professores é, certamente, o melhor professor que conhecemos.
Por isso, cada vez mais estou convicto de que os professores, tanto quanto ensinar o que sabem, ensinam o que são, ou seja, existem muitos que nos ensinam saberes, o que é bom e indispensável, mas nem todos permanecem com a gente.
Parece-me sempre oportuno mas nestes tempos mais que nunca acentuar a importância desta dimensão mais ética e afectiva do ensino. Deve ser valorizada e promovida para que os miúdos possam, posteriormente, falar dos professores que os marcaram e que, por essa razão, continuaram com eles.
Para complementar permitam-me recuperar uma história que já aqui coloquei, o Mestre Teixeira, o mestre de Fusíveis.
O Mestre Teixeira foi há muitos anos professor de uma escola que havia naquele tempo que se destinava mais a ensinar o saber-fazer do que o saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas, umas mais dirigidas para a indústria, as industriais, outras mais dirigidas para os serviços, as comerciais.
O Mestre Teixeira era professor numa escola industrial e era especialista nas coisas da electricidade, sabia tudo sobre esse mundo e tinha, isso é que o fazia ser como era, uma paixão enorme por aquelas coisas. Algumas pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas, gostam que toda a gente goste das coisas que os apaixonam e era a partir dessa paixão que ele se relacionava com os alunos.
Mas a grande virtude do Mestre Teixeira era a sua capacidade para entender os alunos, ler os alunos, como eu costumo dizer. Tinha uma capacidade notável de perceber o que se passavam com os adolescentes, o que os levava aos comportamentos ou às dificuldades que evidenciavam. Era quando ele falava qualquer coisa como "tens algum fusível a precisar de ser visto ou a queimar". Tinha então a sabedoria para perceber o que se passava e "arranjar" os fusíveis que não estavam em boas condições. Tal sabedoria e faziam dele um daqueles professores que nos marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem muito, como era o caso do Mestre Teixeira.
Por isso toda a gente lhe chamava O Mestre de Fusíveis. Hoje, mais do que nunca, fazem falta os Mestres de Fusíveis. Como o Professor Rui Correia certamente será.

sábado, 11 de maio de 2019

AINDA AS CONTAS DOS 9A4M2D


Uma das questões que tem marcado o processo relativo à consideração do tempo de serviço dos docentes é a diversidade de números relativos ao encargo da contagem do tempo do tempo total. Não é estranho, as contas na educação nunca dão certas.
Não sou versado nestas matérias mas creio que talvez seja do algoritmo usado, como agora se fala. O povo costuma dizer, “cada algoritmo, sua sentença” e o povo é sábio.
Serve esta introdução para uma nota breve sobre um custo de todo este processo que ainda não vi considerado em nenhum dos algoritmos usados para … fazer contas.
Talvez seja da minha formação mas acho que não tem sido considerado o fortíssimo impacto que muito provavelmente o resultado a que se chegou tem na motivação, no ânimo da generalidade dos professores afectados pela medida.
O sentimento de injustiça, o sentimento de falta de reconhecimento e de valorização, a forma como têm sido tratados por muitos opinadores arrogantes e ignorantes com agendas que também obedecem a um algoritmo, uma permanente e desgastante tentativa de diabolização da sua posição, são base suficiente para potenciar mais mal-estar numa classe envelhecida, cansada.
Os custos deste mal-estar não são quantificáveis e os potenciais efeitos negativos são óbvios.
Felizmente, e aqui sou optimista, o sentido ético e a competência da grande maioria dos docentes fazem com que continuem a cumprir o seu trabalho diário com resultados genericamente reconhecidos nos estudos comparativos internacionais e a ver o seu trabalho reconhecido e valorizado pela maior parte dos alunos e pais.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

OS BONS ALUNOS CHUMBARAM OS PROFESSORES


O mundo anda um lugar estranho e a tradição já nem sempre é o que era, os bons alunos chumbaram os professores. A situação,já de si inovadora e portanto actual, é ainda mais curiosa pois quando são os alunos a avaliar os docentes se espera que sejam os maus alunos a chumbar os professores e não os bons alunos.
Pois aqui foi assim.
Os bons alunos da Troika que cortaram rendimentos e reactivaram ou activaram congelamento das progressões das carreiras dos docentes e de outros grupos profissionais, os bons alunos que sobrevalorizam e endeusam o défice e relativizam as pessoas, os bons alunos que têm como fonte privilegiada de inspiração e base de decisão em políticas públicas uma folha de Excel chumbaram os professores.
E agora?
Haverá segunda época?
Haverá recurso?
Teremos Novas Oportunidades?
Repetindo-me, a valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

PERMITAM-LHES A SESTA


O PAN apresentou ontem no Parlamento um projecto de resolução que que recomende ao Governo que “proporcione as condições adequadas, nomeadamente leito ou colchão, ambiente calmo, escuro, com temperatura adequada, limitação de ruído e com vigilância, a todas as crianças em idade pré-escolar a fim de assegurar a qualidade do sono da sesta”. Pretende que se garanta que todas as crianças a frequentar a educação pré-escolar em estabelecimentos públicos ou privados tenham condições para dormir a sesta.
A este propósito umas notas.
Há muitos anos o meu filho frequentava um jardim-de-infância da rede social, onde esteve globalmente muito bem acompanhado, a adaptação correu bem mas a partir de certa altura começou a pedir para que se possível o fôssemos buscar logo a seguir ao almoço. Para abreviar a história só algum tempo depois é que percebemos que o gaiato, na altura com quatro anos e ainda um sesto-dependente, se sentia muito desconfortável por ter de dormir calçado, isso mesmo, calçado. Falámos com a educadora e com a auxiliar, a situação alterou-se, a sesta ficou tranquila e o João feliz. É um exemplo de miúdo para o qual a sesta era importante e foi-o mais algum tempo, ainda nos rimos hoje cá em casa porque era frequente quando passeávamos naquela época ter que me sentar num banco de jardim onde ele adormecia facilmente durante um tempinho, ficando pronto e em forma para o resto do dia.
Também é conhecido que em muitas instituições, por várias razões, se determina uma idade, quase sempre aos três anos e menos frequentemente os quatro, a partir da qual se retira às crianças a possibilidade da sesta, "proibindo-a".
Como em muitos outros aspectos as crianças não têm padrões de sono/vigília iguais pelo que umas, mais cedo que outras, começam a dispensar a sesta e algumas, é bom não esquecer, a adquirir estilos de vida que não sendo contrariados pelas famílias as levam rapidamente a viver com menos horas de sono do que seria desejável com várias consequência menos positivas. Todos os estudos sobre esta questão assinalam a falta de qualidade do sono nas nossas crianças e também nos mais velhos com consequências significativas em várias dimensões
Por outro lado, muitas vezes a alternativa que em muitas instituições é oferecida para ocupar este tempo é ela também de má qualidade. Não há muito tempo foram divulgada a situação de crianças que não faziam a sesta e ficavam numa sala na penumbra a ver televisão.
Além disto, deve ainda considerar-se que boa parte das crianças estão nas instituições durante um número de horas significativo pelo que a sesta poderia ser um factor de repouso e corte numa presença institucional diária de longa duração.
Assim, parece uma questão de bom senso e qualidade educativa, permitir que no jardim-de-infância e sem o limite rígido da idade as crianças cumpram uma sestazinha que só faz bem e que deixa muitos de nós cheios de inveja.

NA QUEIMA DAS FITAS NÃO SE "QUEIMAM" APENAS AS FITAS.

É recorrente. Os eventos conhecidos por "queima da fitas, realizados nas várias cidades com ensino superior, designadamente, nas de maior dimensão e tradição, são palco de excessos e comportamentos de diferente natureza que causam alguma inquietação e que preferia que não acontecessem. Nada de importante, felizmente o o mundo não é a projecção dos meus desejos.
Nas queimas das fitas não se queimam apenas as fitas, também se queimam valores e ideias que deveriam ser preservadas.
Também não é um comentário de natureza moralista ou conservadora de um velho que que também passu há muito pelas "tradições académicas".
É um comentário de alguém que defende a educação com valores e não a educação para a santidade. A transgressão e os comportamento "fora da caixa" fazem parte, em muitas circunstâncias, das tarefas do desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens.
No entanto alguns dos comportamentos estão para além dessas "tarefas de desenvolvimento", são tóxicas, fazem mal.
Sou, por natureza, optimista, mas julgo que gente que irá construir o futuro o saberá fazer mas ... atenção, o futuro está a construir-se agora, também nas "queimas das fitas".

quarta-feira, 8 de maio de 2019

DIFERENCIAÇÃO E EDUCAÇÃO


Daqui a pouco vou fazer-me à estrada para mais um encontro de trabalho com professores do ensino básico, desta vez e mais uma vez em Peniche. A ideia será conversar sobre diferenciação no trabalho educativo, uma temática recorrente que da forma como tantas vezes é abordada corre o risco de perder significado e entra como é mais habitual entre nós em modo “cada cabeça, sua sentença” ou, de outra forma, “cá para mim, diferenciação é…”
Não tenho a pretensão do discurso definitivo, do manual, não creio que exista, encaro estes encontros como espaço de reflexão que, lamentavelmente e do meu ponto de vista são insuficientes nas escolas em parte devido à carga burocrática e também questões e modelos de organização e funcionamento.
Como todos reconhecemos, a característica mais evidente de qualquer sala de aula ou escola é a diversidade. Esta é questão central, com grupos diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada sob pena de não acomodar as diferenças entre os alunos comprometendo a qualidade, o sucesso e a inclusão.
Todo o sistema educativo e as políticas educativas devem servir de suporte a esta visão e às suas múltiplas implicações.
Indo um pouco mais longe nas práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio de diferenciação umas notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não tem a ver com “inovação” ou com “novos paradigmas”, terminologia cuja utilização frequente me irrita um bocado. A questão central pode ser alterar e não inovar, são de há muito conhecidas boas práticas que diariamente são mobilizadas em muitas escolas quase sempre com pouca divulgação, até mesmo interna.
Uma primeira nota sobre o equívoco habitual de que diferenciação é sinónimo de trabalho individual. Considerando as dificuldades (e o desajustamento) de fazer assentar o trabalho educativo no trabalho individual, encontra-se assim um suposto “impedimento” à diferenciação. De facto, diferenciar não é igual a trabalho individualizado, pelo contrário, implica muito fortemente a aprendizagem cooperada e a cooperação entre professores. Aliás, verificando-se desejavelmente a aprendizagem individual por parte de cada aluno a sua construção é social pelo que mesmo que fosse possível o recorrer exclusivamente ao trabalho individual, (o que nem com turmas mais pequenas aconteceria) não seria a melhor forma de trabalhar.
Assim, só o desenvolvimento de formas diferenciadas de organizar os processos educativos, de gerir a sala de aula, de avaliar, de gerir a estrutura curricular ela própria com uma concepção e conteúdos que sejam amigáveis desta diferenciação, de comunicar, de cooperar com pais e encarregados de educação, etc., poderá permitir responder tão bem quanto possível à diversidade dos alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização e funcionamento de uma sala de aula da forma mais ajustada a recursos e necessidades contemplar alguma foram de diferenciação em dimensões como: Planeamento educativo/gestão curricular (aqui entra a “flexibilidade curricular” mas com conteúdos e organização dos currículos adequados); Organização do trabalho dos alunos – as múltiplas formas de organizar o trabalho dos alunos relativamente às situações de aprendizagem; Clima de aprendizagem – a qualidade e nível de interacção e relacionamento social entre alunos e entre professor e alunos; Avaliação – os processos relativos à avaliação e regulação do processo de ensino e aprendizagem; Actividades / Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes tarefas ou situações de aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos – a definição, utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão como suporte ao processo de ensino/aprendizagem.
Mas para que isto seja consistente e não localizado também sabemos que o sucesso se constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação e expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos, etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.