Gostei de ler a entrevista de
Bárbara Wong a Alberto M. Carvalho no Público, “As crianças não aprendem se não forem tocadas nos seus corações”. Lê-se no “lead” da peça, “Alberto M. Carvalho
é uma espécie de ministro da Educação de Miami-Dade, que defende a equidade.
Para isso, luta por criar todas as condições para que o aluno consiga ter
sucesso. Da ida ao médico ao jantar, sem esquecer a oferta de um ensino de
qualidade. A escola ideal existe, acredita, foi ele que a criou”.
A propósito da reflexão que a
entrevista justifica nestes tempos duros em que para muitos falar destas coisas é perda de tempo, entendem que os professores entregam conteúdos e alguns alunos aprendem e os outros, paciência, vão para outros caminhos pois nem todos "têm jeito" para a escola, umas notas repescadas.
As alterações nos estilos de
vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de
desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências
nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a
necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas
sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco
amigáveis para alunos mas também para professores como múltiplos estudos
evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir
sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada
"revolucionárias", nenhum “novo paradigma”, a educação escolar é
estruturada e alimentada pela relação e a relação, para que exista e seja
positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas minhas conversas por aí sobre
estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem
muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes
pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a
relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas
da escola”.
Como dizia em cima, a educação
escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação
que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes
os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar,
para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo.
A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número
de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala
com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é
preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para
conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que
os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são.
Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores que nos
marcaram pela positiva é pelo que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram
apesar da importância que tenha tido.
Sendo certo que precisamos de
ajustamentos regulares no que fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não
“inovemos” tanto, não queiramos tantos “novos paradigmas”, não
"mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo
para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a
circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção.
Irão aprender e serão gente de bem.