Foi ontem anunciado pelo
Secretário de estado da Educação o início em Maio do terceiro ciclo de
avaliação das escolas da responsabilidade da Inspecção-Geral da Educação e
Ciência.
Parece-me interessante a
afirmação de que para além dos resultados do exames e da utilização de outros
critérios como os designados “percursos directos de sucesso”, a avaliação terá
na inclusão “o indicador-chave”.
Ao que foi dito, para o processo
de avaliação serão desenvolvidas “métricas qualitativas” que se associem a
outra informação de natureza mais quantitativa e recorrendo à “observação das
práticas seguidas pelas escolas e não numa análise apenas documental”.
Sim, parece-me positivo em termos de
enunciado mas … algumas notas.
A avaliação é, seguramente, uma
ferramenta de promoção e regulação da qualidade do trabalho desenvolvido o que
a torna imprescindível nos vários patamares do sistema, incluindo,
naturalmente, as escolas. Em Portugal e de há muito, no universo da educação, a
avaliação, seja de alunos, de professores ou das escolas tem sido um terreno de
enorme instabilidade e conflitualidade, seja pela incoerência e incompetência
de diferentes iniciativas da tutela, seja pela contaminação da normal
conflitualidade destas matérias pelos interesses conjunturais da partidocracia,
traduzidos numa volatilidade espantosa de mudanças e alterações que nem tempo
têm se ser avaliadas antes de ser novamente ... alteradas e sempre recebidas
reactivamente.
Recordo um Relatório da rede
Eurydice, "Assuring Quality in Education — Policies and Approaches to School Evaluation in Europe" de
2015 sobre a avaliação da qualidade das escolas e dos modelos e dispositivos
utilizados em 31 sistemas educativos europeus, todos os da UE bem como
Islândia, Noruega, Turquia e Macedónia.
Para além das semelhanças
verificadas entre o que se passa em Portugal e a realidade de outros países,
relevavam algumas diferenças significativas.
Uma primeira nota sublinhar a
referência à baixa participação de alunos e pais na avaliação das escolas. Tal
não surpreenderá dada a cultura, modelos e práticas de centralização que
genericamente conhecemos e do pouco envolvimento dos alunos que a também não
será alheio o nível de autonomia.
No que respeita aos pais, também
aqui, apesar das inúmeras experiências positivas, a centralização e a
conflitualidade de interesses, nem sempre interiores à educação, não é
favorável à participação dos pais, ainda que prevista, na avaliação das
escolas. É ainda de realçar que temos, genericamente, um baixo envolvimento dos
pais na vida das escolas.
A segunda nota relativa a
diferenças importantes prende-se com o facto de Portugal ser um dos três únicos
países em que a avaliação das escolas não contempla a observação de aulas. Esta
matéria é mais uma das muitas em que a polémica é forte. Recordem-se as
discussões sobre a observação de aulas no contexto da avaliação de professores
e os discursos, práticas e equívocos instalados.
Por outro lado, parece-me
importante reflectir sobre a enorme carga burocrática envolvida na avaliação
das escolas que habitualmente solicitam uma carga enorme de informação,
extensa, redundante e parte dela inútil, da forma que é requerida. A produção
desta informação consome centenas de horas de trabalho a muitos docentes subtraídas
à essência do seu trabalho.
O nível de informação solicitada
e as regras impostas de funcionamento e organização mostra, de facto, um
sistema altamente centralizado, burocratizado e com a tentação de manter um
controlo absoluto sobre a organização e funcionamento das escolas.
A minha experiência em processos
desta natureza, como membro de Conselho Geral, incluindo escolas com contrato
de autonomia, é elucidativa.
A indicação da inclusão como “indicador-chave”
e a definição das métricas qualitativas parece-me interessante mas importa ter uma ideia muito clara do que estamos a falar e a avaliar. Em nome da inclusão conhecem-se abordagens que atropelam direitos e promovem exclusão e, obviamente, muito boas experiências. Retomo o entendimento de que os
critérios essenciais em matéria de educação inclusiva assentam na participação,
na pertença e na aprendizagem, repito, na aprendizagem. Não contemplam alunos “entregados" em vez de integrados numa sala de aula e a sua acomodação numa qualquer medida prevista no quadro
legislativo através de um processo burocratizado.
A avaliação, sendo imprescindível
na promoção da qualidade é tanto mais eficaz nessa função quanto mais
competente e simples possa ser. A avaliação também não pode servir para “certificar”
ou “validar” aquilo que já “sabemos” ou “queremos” encontrar para "fabricar" sucesso. Temos tido exemplos estimulantes nesta matéria. Aliás e como sabemos, a “inclusão” por cá, tudo bem.
No meio disto e como dizia o
Mestre João dos Santos, o mais difícil em educação é trabalhar de uma forma
simples.
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