Segundo as previsões e conforme
já sentimos o frio chegou à generalidade do país, nada de novo, estamos no
Inverno, é tempo dele, do frio, como falam os antigos.
Como é habitual surgem os
conselhos e o anúncio de medidas de protecção dirigidas aos grupos mais
vulneráveis, crianças, idosos ou sem-abrigo.
Sempre que penso nesta questão,
miúdos com frio, recordo-me, já aqui o escrevi, da narrativa de Juan José
Millás em "O Mundo – O mundo é a rua da tua infância”" quando
enuncia, “Quem teve frio em pequeno, terá
frio para o resto da vida, porque o frio da infância nunca desaparece”.
Na verdade, no Inverno ou até no
Verão, existem muitos miúdos que passam frio, às vezes muito frio, e nem sempre
conseguimos dar por isso. Acontece até que alguns deles sentem frio em
ambientes muito aquecidos ou mesmo no Verão, como disse. Não se trata do frio
que vem de fora, daquele de que falam os alertas coloridos que que agora estão
visíveis, seria “fácil” minimizar esse frio se assim se quisesse. É, antes, o
frio que está à beira, um bloco de gelo disfarçado de família, de escola ou de
instituição de acolhimento, é o frio que vem de dentro e deixa a alma
congelada. Do frio que vem de fora, apesar de incomodar, acho que, quase
sempre, nos conseguimos proteger e proteger os miúdos, mas dos frios que estão
à beira e dos que vêm de dentro nem sempre o conseguimos fazer porque também
nem sempre os entendemos e estamos atentos ao frio que tolhe muitas crianças e adolescentes.
Apesar de sentir confiança na
resiliência dos miúdos, expressa em muitíssimas situações de gente que sofreu e
resistiu a experiências dramáticas, uns mais que outros naturalmente, parece-me
fundamental que estejamos atentos aos frios da infância.
Muitas vezes, como diz Millás,
quem teve frio em pequeno terá mesmo frio no resto da vida.
Quando olhamos para muitos
adultos à nossa volta parece claro o frio que terão passado na infância.
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