Quando era miúdo acontecia com
alguma frequência os adultos quererem colocar-nos questões que nos deveriam
embaraçar ou, o maior desejo, levar-nos ao engano para então se rirem da
ingenuidade e ou do erro, coisas de adultos, como sabem.
Uma das perguntas mais usadas
neste contexto era a conhecidíssima “O que pesa mais, um quilo de chumbo ou um
quilo de algodão?”. Já não me lembro mas, provavelmente, como todos, durante
algum tempo, respondi errado e posteriormente, com um ar de puto inteligente
que não se deixa apanhar na curva, já respondia que era uma pergunta um bocado
estúpida para se fazer a gente tão sabedora e esclarecida.
Passados estes anos, sem
vislumbrar porque me lembrei disto, chego à conclusão de que, embora não fosse
certamente a intenção dos adultos a pergunta faz todo o sentido, um quilo não
pesa sempre um quilo. Vou tentar explicar esta ideia, no mínimo, disparatada.
Se pegarmos na vida de muitas
pessoas que andam à nossa beira, um quilo de vida não pesa o mesmo para todos.
Há gente para quem um quilo da sua vida é um fardo insuportável de tanto peso.
Por outro lado, também existem pessoas para quem uma tonelada da sua vida é de
uma enorme leveza que se carrega sem esforço.
Se olharmos para os mais pequenos
a situação ainda fica mais óbvia. Temos miúdos que desde de que nasceram, cada
quilo da sua vida tem um peso que não conseguem carregar de tanto sofrimento e
que os deixa amachucados debaixo de tamanha dimensão. Outros miúdos, felizmente
a maioria, carregam cada quilo da sua vida com a leveza de um berlinde no
bolso.
Com o tempo das pessoas a questão
põe-se da mesma forma disparatada, uma hora não é sempre uma hora. Todos nós já
tivemos horas que duraram uma eternidade e, noutras circunstâncias, tivemos
horas que passaram num segundo.
Pois é, agora, que já não me
fazem a pergunta, é que eu era capaz de dar a resposta que certamente
embaraçaria o perguntador, ou seja, depende do algodão e depende do chumbo.
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