Já não é a primeira vez que aqui no
Atenta Inquietude me refiro ao lindíssimo "Os
Respigadores e a Respigadora" de Agnès Varda. Hoje faço-o de novo a
propósito da vida de alguns miúdos.
É verdade, um número demasiado
elevado de crianças e adolescentes são uma espécie de respigadores, ou seja, a
sua vida depende muito das sobras da vida dos adultos.
Existem crianças que apenas têm
pais e mães no tempo que a estes sobre, pouco, dos estilos de vida a que estão
obrigados ou escolhem.
Em muitas circunstâncias os
miúdos têm apenas a voz que os silêncios dos adultos, curtos, lhes concedem.
Existe muita gente miúda que na
escola tem a atenção que sobra do cansaço e do esforço mal compreendido de
muitos professores e o que sobra do investimento de políticas públicas com
prioridades tantas vezes trocadas.
Todos conhecemos miúdos, mais
pequenos e mais grandes, que se confortam com as sobras dos afectos que os
adultos têm para distribuir.
Existem muitos miúdos que para
brincar, a actividade mais séria que se faz quando se é pequeno, apenas têm o
tempo que sobra da quantidade enorme de actividades com que são intoxicados em
nome da excelência e do desenvolvimento.
Curiosamente e de forma
paradoxal, muitos destes respigadores pequenos têm muitas coisas em excesso,
que lhes não fazem falta alguma. Mas isso é outra história.
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