quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

AS PALAVRAS MAL DITAS


Ao que li no Público, na audição de ontem na Comissão da Educação e Ciência, o Ministro da Educação, em resposta a uma pergunta de uma deputada sobre a negociação prevista no OGE e base do veto ”brando” do Presidente da República à proposta do Governo de contabilização do tempo de serviço dos professores, afirmou que o processo negocial seria iniciado “atempadamente”, que o Governo “tem o seu próprio calendário" e que o OGE é “válido para todo ao ano de 2019”.
Não consta que o Ministro se tenha rido quando fez estas afirmações, poderia ser uma tentativa patética de “engraçadismo”, pelo que só poder considerada uma afirmação séria e, no mínimo, lamentável.
Umas notas breves e repescadas de um não especialista sobre a questão da comunicação, sobretudo das lideranças políticas.
A primeira questão é exactamente essa, o peso social do mensageiro condiciona o conteúdo da mensagem, ou seja, a mesma frase não tem o mesmo valor afirmada por um cidadão comum ou proferida por uma figura com responsabilidades de decisão, neste caso em matéria de cultura e políticas públicas nesta área. Aliás, trata-se do ministro da Educação.
Pode sempre afirmar-se que haverá alguma razão nas afirmações ou que a intenção não traduz o valor facial das afirmações.
No que respeita à eventual razão, mesmo que em algumas situações pudesse ser entendida, toda a gente as ouve pelo que não podem deixar de as analisar e levar em consideração.
Quanto à intenção, a sua não existência, e até posso esforçar-me por acreditar que não exista, não colhe. Numa certa altura do desenvolvimento dos miúdos, o seu desenvolvimento moral e intelectual leva-os a considerar que a sua não intenção de realizar algo, desculpa o que aconteceu, tal entendimento traduz-se no frequente "foi sem querer" e como "foi sem querer", não tem problema. Neste patamar, não funciona o "foi sem querer" e não podemos dizer a primeira "coisa que nos passa pela cabeça".
A questão é que as lideranças, as que verdadeiramente lideram, apesar de não possuírem, felizmente, o dom da infalibilidade e da perfeição, não podem, não devem proferir determinadas palavras e persistirem teimosamente na sua afirmação.
Trata-se de mais um exemplo de palavras (mal)ditas que ao longo dos anos têm sido proferidas por muita gente dos vários quadrantes políticos e áreas de intervenção.

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