Com uma impressionante
regularidade continua a verificar-se a facilidade com que imensa gente,
designadamente, a que tem acesso ou “reside” num qualquer meio de comunicação social
emite comentários e análises sempre com um enunciado conclusivo sobre o
universo da educação e seja qual for a temática, designadamente em tudo o que envolve professores e o seu trabalho. Uma tal de Moura Guedes que se apresenta como Procuradora é só mais um patético exemplo.
Por outro lado, quando troco opiniões
com pessoas com formação de áreas diferenciadas que não as Ciências Sociais,
designadamente Educação ou Psicologia, áreas que conheço melhor, sobre matérias
do seu universo de formação ou intervenção, percebo que frequentemente os meus
interlocutores desvalorizam o que exprimo pois não lhe reconhecem “saber” ou
“ciência”, apenas opinião.
No entanto, quando falo de
assuntos da minha área de estudo de décadas, Psicologia e Educação, qualquer
que seja a sua formação, muitos dos interlocutores afirmam com a maior das
convicções opiniões sólidas e seguras sobre o que está em discussão e assumem
com toda a segurança essas opiniões como “saber”.
Quando era mais novo ainda
tentava argumentar com base no que a ciência nestas áreas vai produzindo mas,
dada a falta de efeito, vou desistindo, já não estranho os "eu acho" ou a variante "cá para mim".
Na verdade, “mete-me espécie” que
engenharia, biologia, economia, medicina, etc., etc., sejam áreas de “saber” e
que educação ou psicologia sejam percebidas não como áreas de saber mas como
áreas de opinião que, naturalmente, qualquer pessoa pode expressar e, assim,
passar a ser “saber”.
Aliás, até já tenho visto
referências às Ciências da Educação escritas com aspas e, frequentemente, com
sentido pejorativo. Foi patente nos últimos anos a emergência de discursos
diabolizando as “ciências da educação” identificando-as como o eixo mal
responsável pelo que de mau vai acontecendo no mundo da educação. Elucidativo.
Seria estranho, no mínimo, alguém afirmar que o que se sabe e estuda em engenharia
num qualquer ramo é prejudicial … à engenharia
“Mete-me espécie” que o que eu
afirmo dentro da minha área não seja percebido como saber, não seja percebido
como conhecimento, seja uma opinião e, como tal, passível de discussão com base
noutra opinião enquanto o discurso do meu interlocutor sobre a sua área de
intervenção seja “saber” pelo que um leigo como eu não o pode abordar de forma
séria.
Não é grave que se construa
opinião sobre qualquer assunto da nossa vida. É desejável e estimulante para
toda a gente que assim seja. O que me “mete espécie” é que se entenda que
opinião é ciência ou, quando convém, que a ciência não é ciência é opinião e
como tal deva ser tratada.
Ao fim de quarenta anos de lida profissional
já estou mais habituado mas lá que me “mete espécie” e cansa … é verdade.
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