A 21 de Outubro, a propósito de
um trabalho do DN sobre a forma como também em Portugal as redes de
desinformação e intoxicação com as designadas “notícias falsas” estão activas,
afirmei que estávamos a “incubar o ovo da serpente, os ovos da serpente, que
vão eclodindo em múltiplas sociedades à escala global. A ameaça é séria, as
consequências podem ser devastadoras e soltar-se a Besta.”
O recente episódio da presença de
um conhecido fascista, condenado por crimes de ódio e de violência extrema para
participar numa conversa sobre “Precisamos de um novo Salazar? É mais um passo
nesta assustadora trajectória.
A questão não é a discussão em
torno da figura sinistra da nossa história, a questão é uma discussão em torno
da negação da democracia, não é uma troca de ideias em matéria de opinião. A
presença daquela figura é um insulto justamente à essência ética da democracia,
o respeito pela diferença. Igualmente inquietante é o esforço de várias "opinadores" no sentido de branquearem a opção da TVI em nome da pluralidade opiniões e da "inofensiva" figura que consideram ser o "convidado" da TVI. Argumentam ainda com outros males de que sofre a democracia o que sendo evidente, muitas vezes aqui temos conversado sobre matérias como corrupção ou atropelos à ética, não branqueia a defesa da prisão por delito de opinião, da censura, da tortura, etc. como modelo de social e político.
A verdade é que, lamentavelmente,
já não nos conseguimos surpreender com alguma comunicação social e a
despudorada forma como intoxica, manipula e produz opinião, já não em busca de
audiência, mas ao serviço de agendas mais pesadas, por assim dizer.
Os tempos vão negros. Esta
negrura exigiria mais do que nunca uma imprensa autónoma e independente. Cada
vez se torna mais difícil destrinçar o que é jornalismo e informação do que não
é, nem uma coisa nem outra.
Como é evidente não está de todo
a causa a liberdade de informação e de opinião mas sim o papel insubstituível
da imprensa e da comunicação social como pilares das sociedades abertas e
democráticas. No entanto, todos os dias nos deparamos com práticas e discursos
de um sentido ético e deontológico miserável, de um baixo nível de competência,
frequentemente ao serviço de agendas mais ou menos explícitas e numa luta
selvagem por audiências em que vale (quase) tudo.
E não, boa parte dos conteúdos
jornalísticos na imprensa …não é jornalismo, por vezes é mesmo um insulto à
inteligência e sensibilidade de muitos de nós embora, tenho que o admitir,
possa ser do agrado de outros de nós.
Como sempre é uma questão de
escolha, o que se serve, como se serve, quem se serve, por que razão se serve,
entre outros critérios.
Que mundo estamos a construir
para os nossos filhos e netos.
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