O DN republica hoje um trabalho
que já tinha divulgado em Novembro com o sugestivo título, “Hiperativo, com défice de atenção, deprimido: a paixão pelos rótulos”. Considerando a
pertinência e actualidade da questão em apreço, “republico” o texto que na
altura aqui coloquei.
Partindo de uma referência ao
livro “Niñ@s hiper: Infâncias Hiperactivas, Hipersexualizadas, Hiperconectadas”
de de Ramón Ubieto e de Pérez Álvarez, o DN tem uma peça que merece reflexão
séria. Os autores abordam o que aparece designado por “naming”, a preocupação em encontrar um nome para dar a
qualquer comportamento observado numa criança que seja considerado não adequado
ou não “normal”.
De acordo com o que se tem como
expectativa de comportamento, capacidades e competências e desempenho adequados, muitas crianças são “rotuladas” com uma qualquer designação quando tal expectativa
não se verifica.
Este processo pode envolver o
contexto escolar, familiar ou a intervenção de diferentes técnicos e exige uma extrema prudência e competência. Por vezes até pode acontecer
com a ajuda do Dr. Google e das redes sociais que sempre disponibilizam um extenso de volume de
informação sobre o que quer que seja.
A “rotulagem”, por assim dizer, acaba por cumprir um papel justificativo, explicativo, do comportamento observado,
a criança é “assim” porque tem “isto” o que, aparentemente pode descansar os
que lidam com a criança. No entanto, para muitas crianças pode ser algo de
profundamente negativo.
Muitas vezes tenho referido esta
questão no Atenta Inquietude e retomo algumas notas.
De facto, a forma como olhamos,
intervimos e exigimos dos comportamentos e resultados escolares dos mais novos
mostram que de há uns tempos para cá uma boa parte dos miúdos e adolescentes
parece ter adquirido uma espécie de prefixo na sua condição, o "dis",
passam a "dismiúdos".
Se bem repararem a diversidade é
enorme, ao correr da lembrança temos os meninos que são disléxicos em gama
variada, disgráficos, discalcúlicos, disortográficos ou até distraídos.
Temos também as crianças e
adolescentes que têm (dis)túrbios ou perturbações. Estes também são das mais
diferenciadas naturezas, distúrbios do comportamento, distúrbio do
desenvolvimento, distúrbios da atenção e concentração, distúrbios da memória,
distúrbios da cognição, distúrbios emocionais, distúrbios da personalidade,
distúrbios da actividade, distúrbios da comunicação, distúrbios da audição e da
visão, distúrbios da aprendizagem ou distúrbios alimentares.
Como é evidente existem ainda os
que só fazem (dis)parates e aqueles cujo ambiente de vida é completamente
(dis)funcional ou se confrontam com as (dis)funcionalidades em muitos contextos
escolares, número de alunos por turma excessivo, currículos desajustados, falta
de apoios, etc.
Pois é, há sempre um
"dis" à espera de qualquer miúdo e senão, inventa-se, "ele tem
que ter qualquer coisa".
De forma propositadamente
simplista costumo dizer que algumas destas crianças não têm perturbações do
desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem, experimentam perturbações no
envolvimento e sentem dificuldades na “ensinagem”.
Agora um pouco mais a sério,
sabemos todos que existe um conjunto de problemas que pode afectar crianças e
adolescentes, esses problemas devem ser abordados, diagnosticados e, se
necessário, recorrer a medicação mas, felizmente, não são tantos as situações
como por vezes parece. Inquieta-me muito a ligeireza com que frequentemente são
produzidos "diagnósticos" e rótulos que se colam aos miúdos, dos
quais dificilmente se libertarão e que pela banalização da sua utilização se
produza uma perigosa indiferença ou falsas explicações sobre o que se observa
nos miúdos.
As consequências podem ser
graves.
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