Pode parecer-vos esquisito mas na
verdade parece que se vivem tempos de destempo.
Quero eu dizer com esta estranha conversa que cada vez mais se pode reparar
como o des está presente nos
discursos e nos comportamentos. Reparem em alguns exemplos.
O despudor indigno com que se convive com a desigualdade e ao mesmo tempo se alimenta o desperdício.
Nas relações entre as pessoas não
falta o desencontro. Quando se olha
para o futuro muita gente se sente desmotivada
e descrente.
Instalou-se um sentimento de desconfiança que mina a ideia de
comunidade. Muita gente, pequena, graúda e mais velha, passa pelo desconsolo da solidão. A nossa atenção é
facilmente desviada do essencial para o acessório, ou seja, ficamos
progressivamente desatentos ao que é
verdadeiramente importante.
Muitos miúdos e adolescentes
mostram um comportamento desregulado
que nos preocupa, mas a desregulação
nos adultos não é mais animadora. É curioso também como desaprendemos coisas que já soubemos, cumprimentar, conversar, por
exemplo. De facto, muitas vezes não se conversa, desconversa-se.
Pode reparar-se no desconforto com que muita gente vive uma
vida destituída de dignidade.
Apesar deste cenário, mantendo
algum optimismo, acredito que seremos capazes de substituir os modelos de desenvolvimento que nos trouxeram a isto
por modelos de envolvimento, bem mais inteligentes.
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