Segundo dados divulgados através
do portal InfoEscolas produzidos pela Direcção-Geral de Estatísticas da
Educação e Ciência, apesar de algum progresso, continua preocupante o nível
ainda elevado de alunos do 1º ciclo que não o terminam em quatro anos, passando, pelo menos, por uma retenção.
Faro e Beja apresentam os
indicadores mais elevados, 22%, o Braga o distrito com melhor resultado ainda
apresenta 11% de alunos que não cumpre o 1º ciclo sem retenção. Por curiosidade,
Lisboa tem uma taxa de 13%.
Os números ilustram uma situação
que, lamentavelmente, não tem nada de novo. Algumas notas.
Já sabemos que continua a
verificar-se um nível importante de insucesso escolar no 1º ciclo desde logo no
2º ano, o primeiro em que a retenção, o chumbo, é possível.
Também sabemos que muitas escolas
são espaços de sucesso e que o insucesso é mais elevado em escolas de periferia
que servem territórios mais vulneráveis em termos sociais e económicos e em
escolas de concelhos do interior mais desertificado, embora, sublinhe-se, mesmo
nesses contextos existem escolas que conseguem fazer a diferença.
Também sabemos no âmbito do
insucesso identifica-se como questão crítica a aprendizagem da leitura, da
escrita e da matemática num quadro curricular que carece de ajustamento para
além da “mágica” flexibilidade.
Sabemos a atribuição de
causalidade face ao insucesso privilegia o “contexto familiar” e o meio
socioeconómico desfavorecido mais do que questões de natureza curricular ou de
recursos físicos, humanos ou espaços.
Sabemos e não é de agora que o
chumbo, a retenção, não transforma o insucesso em sucesso, repetir só por
repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos
mostram quer se queira, quer não. Aquilo a que alguns chamam de “cultura de
retenção” existe e marca de forma importante alguns dos dados divulgados.
Recordo que já no relatório relativo ao PISA de 2012 a OCDE afirmava que a
retenção, é para os alunos portugueses o principal factor de risco para os
resultados na avaliação posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam …
mas não melhoram.
Também sabemos que para promover
mais sucesso e não empurrar os alunos para os anos seguintes sem nenhuma
melhoria nas suas competências ou saberes é essencial promover e tornar
acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e
competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do
chumbo.
Sabemos também que a escola pode
e deve fazer a diferença, em muitas escolas isso acontece. Mas para que isto
seja consistente e não localizado também sabemos que o sucesso se constrói
identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a definição de
currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes,
competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo, com a valorização do trabalho
dos professores, com práticas de diferenciação e expectativas positivas face ao
trabalho e face aos alunos, com melhores níveis de trabalho cooperativo e
tutorial, quer para professores quer para alunos, etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Só falta um pequeno passo.
Construir para todos os miúdos
trajectórias de sucesso. Não, não é uma utopia. Tal como o insucesso não é uma
fatalidade do destino.
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