À semelhança do que já tinha realizado
para o 2º ciclo a Direcção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência divulga
um estudo sobre o trajecto escolar dos alunos que em 2014/2015 terminaram o 3º
ciclo, “Resultados escolares por disciplina - 3.º Ciclo - Ensino Público - Ano letivo 2014/2015”.
Os resultados replicam o padrão
já verificado no trabalho sobre o 2º ciclo divulgado em Maio
Em termos globais o chumbo atinge
13.1% dos alunos no ciclo. Por anos o 7º é o que regista maior retenção, 16.7%,
indicador também é verificado nos anos iniciais de cada ciclo. Embora no 8º e
9º a retenção diminua tal não parece decorrer de trabalho de recuperação mas do
facto de muitos alunos retidos no 7º serem encaminhados para outros trajectos
escolares.
Ao nível dos aspectos mais finos
da retenção é inquietante que 66% dos alunos que chumbam no 7º ano reprovam a
seis ou mais disciplinas sendo a Matemática a que apresenta indicadores mais
pesados. No entanto, se o critério for de cinco disciplinas ou mais a taxa passa
para uns dramáticos 85% que, evidentemente, são altamente condicionantes de um
trabalho de recuperação bem-sucedido.
Um outro dado, também em linha
com o que se verificou no 2º ciclo e sem surpresa, é a fortíssima associação
entre os altos níveis de retenção e a mais disciplinas e as condições socioeconómicas
familiares. De facto, em todas as disciplinas no 7º ano os alunos que reprovam
e estão incluídos no Escalão A da Acção Social escolar (famílias com menores
rendimentos) são o dobro de alunos com negativas mas não abrangidos pela Acção
Social Escolar.
É este cenário inquietante mas
que não surpreende que me leva, tal como afirmei em texto de ontem, a aguardar
com alguma expectativa os dados do PISA de 2018 que incluirá muitos dos alunos
agora retratados.
Já me sinto cansado de tanto
falar destas matérias mas a verdade é que julgo necessário insistir. O chumbo,
a retenção, só por existir, não transforma o insucesso em sucesso, repetir só
por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos
mostram quer se queira, quer não.
Assim sendo, a questão central
não é o chumba, não chumba e quais os critérios, quantas disciplinas por
exemplo. O que deve ser discutido e objecto de políticas adequadas será que
tipo de apoios, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos,
professores e famílias desde o início da percepção de dificuldades com o
objectivo de evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.
Importa também que as políticas
educativas sejam promotoras de condições de sucesso para alunos e professores.
O número de alunos por turma em
algumas escolas e agrupamentos, os modelos curriculares extensos e prescritivos
ainda em vigor apesar de uma “flexibilidade curricular” em experimentação mas
que me levanta algumas dúvidas, insuficiência de dispositivos de apoio
competentes e adequados são também exemplo de outras variáveis a considerar.
Este tipo de discurso não tem
rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria
"administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem
sempre se resiste.
Assim sendo, insisto, o essencial
é promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e
recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente
ineficaz medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua
a atingir fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição
económica e social o que inibe o objectivo da mobilidade social, replicando o
velho "tal pai, tal filho". Aliás, estes estudos da Direcção Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência evidenciam isso mesmo, como sempre.
É necessário também diversificar
percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com
formação profissional mas não em idades precoces criando percursos
irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a
escola" e "preguiçosos".
Assim sendo, a qualidade
promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das
aprendizagens, sim, naturalmente, mas também com a avaliação mas também com a
valorização do trabalho dos professores, com a definição de currículos
adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e
suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que
sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de
autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a definição de
objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que não tem acontecido em
Portugal.
Ponto.
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