O Expresso tem esta semana o Auto
da Barca do Inferno de Gil Vicente. Por acaso comecei a ler o prefácio da
autoria da actriz Beatriz Batarda.
Depois de umas notas biográficas
Beatriz Batarda informa que “há já algum tempo que deixei de gostar da obra de
Gil Vicente”. “É boçal, limitada e
primária; a sua métrica é pobre e repetitiva”, “O vocabulário é brejeiro, as
histórias são popularuchas, as personagens tão bi-dimensionais como um papel em
branco”.
Trata-se sem dúvida de uma leitura
estimulante do Auto da Barca. Um discurso estruturado, bem fundamentado e que se
espera num prefácio de uma obra literária de um autor menor como Gil Vicente.
No entanto, mais do que este pouco habitual "prefácio"o que me levou estas
notas é o final escolhido para este exercício de engraçadismo umbiguista.
Diz Batarda.
“PS.- Um amigo meu contou-me que na Síria, entre muitos
outros horrores, viu uma criança ser assassinada a tiro. A última coisa que ela
disse foi: “Vou contar tudo a Deus!”. O meu amigo chorava e ria ao mesmo tempo.
Não sei se ria de medo, ou se via mesmo piada na sua história. Assim fico eu
quando leio Gil Vicente”.
Fiquei perplexo com a indignidade
e insensibilidade deste discurso. A Batarda não se enxerga, pode não gostar de
Gil Vicente e prefaciar uma obra sua apenas para ter oportunidade de dizer que
não gosta.
O que não pode é insultar a
inteligência e a sensibilidade das pessoas.
A Batarda, recorrendo à linguagem “popularucha” de Gil Vicente, mandou uma bojarda.
Que vá à merda.
1 comentário:
Dr. Morgado, segundo o meu "Dicionário da Língua Portuguesa 5ª edição muito corrigida e aumentada" da Porto Editora, que custou ao meu pai, em 1969, a quantia de 100$00 (era uma nota)
"batarda, s.f. ou batardão, s.m. o m.q. abetarda (ave)."
Donde se conclui que betarda, embora a vetusta obra não o mencione, também apareceu por via popular. Sendo assim, a senhora que olhe para o cartão de cidadão e retire as necessárias ilacções...
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