No tempo em que se brincava na
rua jogar às escondidas era uma das nossas actividades preferidas. Um ficava no
"coito" (era assim mesmo que lhe chamávamos) de olhos tapados,
contava até 31, os outros escondiam-se e depois da contagem começava a procura.
Cada um dos escondidos tentava chegar ao "coito" sem ser apanhado
pelo procurador. O último que fosse descoberto ficava a "amochar".
Hoje de formas bem mais
sofisticadas e com outros contornos ainda temos miúdos que continuam o jogar às
escondidas. Como muitos substituíram a rua pelas actividades de enriquecimento
curricular e mais os ATL e mais as oficinas e mais o banco de trás dos carros
dos pais ou as carrinhas dos transportes escolares, os esconderijos mudaram
muito.
Alguns, mais dados às novas
tecnologias, escondem-se, por exemplo, dentro dos ecrãs que fazem parte da sua
vida, dentro de uns fones com o som bem alto ou agarrados a um telemóvel que os
ligue a outros escondidos e ficam à espera que ninguém os encontre.
Um outro grupo esconde-se,
submerso pela onda das muitas actividades que são importantíssimas para o seu
desenvolvimento e nas quais se vêem envolvidos ao longo de dias que não têm fim
de tão compridos. É árduo o caminho para a excelência que lhes exigem.
Existe também alguma miudagem que
se esconde no meio do grupo, diferentes grupos, que constitui uma excelente
forma de camuflagem e protecção.
Há ainda um grupo pequeno e nem
sempre discreto de miúdos, mais ou menos crescidos se escondem em
comportamentos de que muitos verdadeiramente não gostam mas que os mascaram de
figuras que eles não são mas atrás das quais tentam sobreviver. Estes miúdos
são, normalmente muito conhecidos por fora mas, por vezes, completamente
desconhecidos por dentro, estão escondidos.
Reparem quantos miúdos estão
escondidos em instituições, tão escondidos que não existe família que os
encontre.
Reparem finalmente quantos miúdos
escondem e se escondem em vidas de sofrimento e negligência.
De vez em quando nós, os mais
crescidos, podíamos entrar no jogo e ir à procura deles, dos escondidos. Era
melhor descobri-los.
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