Um estudo da Fundação Francisco
Manuel dos Santos, “Benefícios do Ensino Superior” hoje apresentado e realizado
por Hugo Figueiredo Miguel Portela mostra algo que importa registar, a
qualificação de nível superior compensa e o impacto é mais significativo com o
mestrado.
O trabalho abrangeu o período ente
2006 e 2005 e considerou a população mais jovem, dez ou menos anos de experiência
profissional e é mais um
contributo para uma questão que muitas vezes é tratada com alguns equívocos.
O primeiro, radica no discurso
recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que,
dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o
investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de
trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente
qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
Um outro equívoco remete para o
estatuto salarial. Apesar da política de proletarização do mercado de trabalho,
da precariedade e do manhoso recurso a estágios, nem sempre remunerados ou
seguidos de emprego, a formação superior ainda compensa. Os dados hoje
divulgados desmentem, mais uma vez, este entendimento.
Aliás, de acordo com um estudo do
Conselho Nacional de Educação divulgado em 2015 um indivíduo com formação
universitária, ao longo da vida activa, ganhará mais cerca de 1,7 milhões de
euros face a alguém com o 9º ano. Mesmo comparando com o 12º ano a diferença
continua muito significativa.
Os dados hoje divulgados
coincidem também com estudos da OCDE, o Relatório da OCDE, "Education at a
Glance 2012" mostrava que a diferença salarial de jovens com licenciatura
para jovens com formação a nível do secundário, é de 69 %, um bom indicador
para o impacto da qualificação.
É claro que não podemos esquecer
o altíssimo e inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular
entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura
de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível
de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais
e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de
uma sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e
contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de
doutores, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de
qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente
qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento proletarizou e que
não absorve uma parte significativa da mão-de-obra qualificada, sobretudo
jovem. Não podemos acolher a mensagem de que a qualificação não é uma
mais-valia.
É um tiro no pé.
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