No âmbito da discussão do OGE para 2018 e ao que se lê no Público, o ME terá aceite a proposta do PEV e estenderá a partir do próximo ano
lectivo a redução do número de alunos por turma, pelo menos dois, a todas as
comunidades escolares. Como se sabe, a medida em desenvolvimento contempla
apenas os considerados Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. A decisão será colocada em prática de forma faseada como parece estar em moda, . Começando em 18/19 pelos anos iniciais de cada ciclo o objectivo é atingir o que estava
estabelecido antes da alteração promovida por Nuno Crato em 2013, máximo de 24
alunos no 1º ciclo e de 28 nos restantes ciclos do Básico.
Espero que nesta iniciativa não
seja esquecido um outro importante aspecto nem sempre valorizado, o número de
alunos por professor. Muitos professores lidam com muitas turmas perfazendo
números acima dos 120 ou 150 alunos. Parece dispensável explicitar as
implicações negativas desta situação.
Como tantas vezes tenho afirmado
é uma medida que se justifica e que importa incentivar.
A revisão de estudos sobre esta
matéria mostra o que também conhecemos, existem vantagens em turmas de menor dimensão que podem ser mais ou menos significativas em função das
variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os
estudos sugerem com clareza a existência de impacto positivo no clima e
comunicação na sala de aula, na maior facilidade de práticas educativas mais
diferenciadas, no comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser
considerado.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas mas também me parece que
não são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo, o que nem
sempre é tido em conta nos discursos de alguns economistas da educação.
É também fundamental considerar
as diferentes características dos diversos territórios educativos. O facto de
começar pelos TEIP percebe-se numa lógica de faseamento mas a verdade é que
todos os territórios educativos são TEIPs, os de Intervenção Prioritária e os
outros em que realiza a Intervenção Possível.
Na verdade, é necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características e dimensão da escola, a constituição do corpo
docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade
e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores,
sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar,
vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos
de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, bem como o nível de
autonomia de cada escola ou agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover
uma autonomia real. Aliás, dentro do que entendo por verdadeira autonomia das
escolas, deveriam ser a ter a competência para definir e organizar as turmas
embora aceite a existência de orientações nesse sentido.
Aliás, também com base na
autonomia das escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença
de dois professores em sala de aula. Em algumas circunstâncias pode ser mais
vantajosa que a redução do número de alunos por turma.
Acresce nesta matéria a
importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades
educativas especiais o que, evidentemente, deve ser considerado na análise do
efectivo de turma, desde logo cumprindo o que está legislado.
Diga-se ainda que é quase
dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num
estabelecimento privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos
num mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos
professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira
desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua
organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores
para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido
são politicamente difíceis mas parecem-me imprescindíveis. Terão custos
certamente mas os custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais
caros.
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