No âmbito do
Projecto aQueduto, uma parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a
Fundação Francisco Manuel dos Santos, é hoje divulgado mais um trabalho. O
trabalho é dedicado aos professores e assenta em dados comparativos retirados
de trabalho de 2012 doTALIS – Teacher and Learning International Survey, um
estudo com países da OCDE. Como é habitual e no que respeita aos alunos a base
de trabalho é o PISA.
Dos dados conhecidos e deixando
de lado alguns aspectos que sendo importantes são mais de natureza
profissional, caso do estatuto salarial surgem indicadores que me parecem
interessantes.
Os professores mais velhos referem
mais episódios de indisciplina nas suas aulas. De uma forma geral os
professores portugueses são os que referem maior carga de trabalho global,
incluindo a preparação das aulas e o excesso de trabalho burocrático.
No inquérito TALIS 48% dos
docentes portugueses referiram sentir-se pouco respeitados pela sociedade e 26%
nunca se sentem reconhecidos pelo que fazem. Uma referência ainda aos métodos
de trabalho que, de acordo ainda com o TALIS, são de natureza muito expositiva.
A relação entre as variáveis aqui
referidas, idade dos docentes, volume e natureza do trabalho, reconhecimento,
indisciplina nas aulas, métodos de trabalho, etc. deve ser vista com muita
prudência e evitar o estabelecimento apressado de relações de causa efeito.
No entanto, até com base noutros
estudos, podemos encontrar associações que merecem reflexão e, mais do que
isso, preocupação e decisões em matéria de política educativa~, mas não só
educativa.
Vejamos alguns aspectos. Segundo o
Relatório “Perfil do Docente”, divulgado em Julho pela Direcção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência, em 14/15 apenas 1.4% dos docentes que
leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos. Este brutal enviesamento distribuição etária dos
docentes deveria provocar um alerta vermelho.
Como se sabe, em qualquer sistema
educativo a profissão docente é altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e
mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de
satisfação profissional.
Recordo um estudo recente
realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA-IU) segundo o
qual cerca de 30% dos perto de 1000 professores inquiridos revela risco de burnout.
Os professores mais velhos, do
ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas
especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas
para este cenário de stresse profissional são identificadas turmas com elevado
número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a
pressão para os resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga
horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte
das lideranças da escola.
Por aqui, podemos estabelecer
alguma relação com os dados agora divulgados e inferir preocupações sérias com
o seu impacto.
No que respeita aos alunos e do
seu comportamento julgo de recordar a existência de currículos extensos,
normativos, associados a um conjunto insustentável e burocratizado de metas
curriculares que tornam muito difícil aos docentes acomodar a diversidade dos
alunos e, como estes dizem, reflectem-se na motivação. Como sabemos a baixa motivação
é um factor fortemente contributivo para comportamentos desajustados em sala de
aula.
Parece-me também de considerar o
impacto da alteração do quadro de valores, por exemplo a percepção social dos
designados traços de autoridade. Não afecta só os professores mas dada a enorme
presença dos docentes na vida de crianças e adolescentes o efeito é óbvio.
Daqui decorre, por exemplo, que
restaurar a autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é
uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma
razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se
processava antigamente e falar da "responsabilização" dos pais é
interessante, mas é outro nada.
Um professor ganha tanta mais
autoridade quanto mais competente, apoiado e valorizado se sentir. O apoio aos
professores é um problema central no que respeita à indisciplina mas não só.
Neste âmbito, apoio e valorização
dos professores está muito por fazer e ganha particular relevância o facto de
sistematicamente os docentes não se sentirem valorizados e reconhecidos.
É também importante reajustar a
formação de professores. As escolas de formação de professores não podem
“ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos
novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos"
carecem também de abordagens "novas". Talvez por aqui se perceba a
presença mais evidente de métodos de natureza mais expositiva, muitas vezes
menos eficazes na gestão dos comportamentos e motivação dos alunos.
No âmbito da intervenção no
comportamento dos alunos parece também importante a existência de estruturas de
mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos
humanos qualificados e disponíveis.
Por outro lado, os estudos e as
boas práticas mostram que a presença simultânea de dois professores é um
excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de
problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às
dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão
com muita frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com
sucesso, em princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de
indisciplina.
Os professores também sabem que
na maior parte das vezes, os alunos indisciplinados não mudam os seus
comportamentos por mais suspensões que sofram. É evidente que importa admitir
sanções, no entanto, fazer assentar o combate à indisciplina quase que
exclusivamente nos castigos ou sanções é ineficaz.
De facto, temos pela frente um
caderno de encargos pesado. Quanto mais tarde o entendermos e assumirmos, mais
pesado e mais caro ele se torna.
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