Um novo estudo realizado pela
Direcção-Geral de Estatísticas de Educação, agora sobre o 2º ciclo, “Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares – 2.º ciclo do ensino público geral”, ontem
conhecido vem sublinhar mais uma vez a forte relação entre variáveis de
natureza social e económica, nível de escolaridade das mães por exemplo, e o
sucesso escolar dos filhos.
A percentagem de sucesso no 2º
ciclo de alunos com mães com licenciatura ou bacharelato é de 80%, entre os
alunos com mães com o equivalente ao 4ºano é de 26%. Se extremarmos as
habilitações, sem habilitações face a mestrado a doutoramento, temos um
intervalo de 85 para 83%.
Estes resultados não são
propriamente surpreendentes tal como no estudo anterior que considerava o
3ºciclo. A capacidade preditora da variável escolaridade dos pais, em
particular a das mães no nosso caso, relativamente ao percurso escolar dos
filhos é ainda muito significativa e comprovada em múltiplos estudos em
diferentes paragens. A análise dos resultados escolares em exames nacionais
cruzando com a habilitação escolar dos pais mostra isso mesmo.
Recordo também uma análise da
OCDE, cruzando os resultados escolares dos alunos de diferentes países no
Estudo comparativo PISA relativos a 2012 com as profissões dos pais, mostra que
em Portugal, mais do que noutros países, os filhos de pais mais qualificados
têm melhores resultados.
Na verdade, desde sempre que os
estudos, designadamente no âmbito da sociologia da educação, associam a
carreira escolar e o estatuto profissional dos filhos ao nível de escolaridade
e estatuto económico dos pais.
Também sabemos que isto é tanto
mais evidente quanto maiores são os níveis de desigualdade. Em Portugal
verifica-se um dos maiores fossos entre ricos e pobres da União Europeia pelo
que a relação entre os níveis escolar e salarial dos pais e os dos filhos é
ainda mais forte. O trabalho agora apresentado vem, mais uma vez, confirmar a
realidade que conhecemos, a enorme dificuldade da escola de promover mobilidade
social, ou seja, o nível de escolaridade dos pais marca de forma excessiva o
nível atingido pelos filhos. A situação sempre assim foi, ainda me lembro de
quando era pequeno, haver quem se admirasse do meu pai, um serralheiro, ter
decidido que eu continuaria a estudar.
Acresce que as circunstâncias
conjunturais, uma política educativa
durante os últimos anos que parecia ter como desígnio a selecção através
sucessivos crivos que não garantem equidade nas oportunidades, dificilmente sustentam
que a educação e a qualificação promovam a desejada mobilidade social
ascendente.
Deste quadro, resulta uma
complexa situação que poderemos de forma simplista colocar nestes termos, a
escola ao acabar por reproduzir a desigualdade social à entrada, compromete o
papel fundamental que lhe cabe na promoção da mobilidade social, ou seja, a
escola que deveria ser parte da solução, na prática, corre o risco de continuar
a ser parte do problema. No entanto e apesar disto, creio que muito poderá e
deverá ser feito no sentido da promoção efectiva da chamada e distante equidade
e igualdade de oportunidades. Aliás, tal como no Estudo se demonstra,
felizmente, temos muito boas experiências que mostram que a escola pode, deve,
de facto, fazer a diferença.
Do meu ponto de vista, tantas
vezes aqui afirmado, a questão central será a qualidade na escola pública. Esta
qualidade deverá assentar em três eixos fundamentais, a qualidade considerando
resultados, processos, autonomia e gestão optimizada de recursos, segundo eixo,
qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a
desigualdade de entrada e, terceiro eixo, diferenciação de metodologias, diferenciação progressiva e não prematura dos
percursos de educação e formação. Esta diferenciação de percursos deve passar, temos
registado progressos nesta área, por uma oferta bastante mais variada ao nível
do secundário possibilitando a muitas jovens completar este nível de ensino com
competências profissionais, isto é que é fundamental. Também ao nível do ensino
superior, com o trabalho no âmbito do ensino politécnico se criam condições
para processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
No actual cenário, quando se
entende e espera que a educação e qualificação possam ter um papel decisivo na
minimização de assimetrias, as políticas, os custos e a dificuldade de acesso
podem, pelo contrário, alimentar essas assimetrias e manter a narrativa,
"tal pai, tal filho", pai (mãe) letrado, filho letrado e pai (mãe) pouco
letrado, filho pouco letrado.
Assim sendo, urge a definição de
uma política educativa para o médio prazo, estabelecida com base no interesse
de todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. A
continuar na deriva a que nas última décadas nos entregamos, daqui a algum
tempo um novo estudo de dentro ou de fora virá dizer exactamente o mesmo.
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