No seu artigo de ontem no
Público, o Professor David Rodrigues começava por se referir à facilidade com que
a generalidade das pessoas, independentemente da sua formação, se expressa de forma definitiva sobre educação sendo
bastante mais prudente quando se trata de outras matérias.
Também no Atenta inquietude já
escrevi algo sobre isto.
Na verdade, acontece-me muito
frequentemente que em troca de opiniões com pessoas com formação de áreas
diferenciadas que não as Ciências Sociais, designadamente Educação ou
Psicologia, áreas que conheço melhor, sobre matérias do seu universo de
formação ou intervenção, perceber que os meus interlocutores desvalorizam o que
exprimo pois não lhe reconhecem “saber” ou “ciência”, apenas opinião.
Por outro lado, quando falo de assuntos
da minha área de estudo de décadas, Psicologia e Educação, qualquer que seja a
sua formação, muitos dos interlocutores afirmam com a maior das convicções
opiniões sólidas e seguras sobre o que está em discussão e assumem com toda a segurança essas
opiniões como “saber”.
Quando era mais novo ainda
tentava argumentar com base no que a ciência nestas áreas vai produzindo mas,
dada a falta de efeito, vou desistindo.
Na verdade, “mete-me espécie” que
engenharia, biologia, economia, medicina, etc., etc., sejam áreas de “saber” e
que educação ou psicologia sejam percebidas não como áreas de saber mas como
áreas de opinião que, naturalmente, qualquer pessoa pode expressar e, assim,
passar a ser “saber”.
Aliás, até já tenho visto
referências às Ciências da Educação escritas com aspas e, frequentemente, com
sentido pejorativo. Foi patente nos últimos anos a emergência de discursos
diabolizando as “ciências da educação” identificando-as como o eixo mal
responsável pelo que de mau vai acontecendo no mundo da educação. Elucidativo.
Seria estranho, no mínimo, alguém afirmar que o que se sabe e estuda em
engenharia num qualquer ramo é prejudicial … à engenharia
“Mete-me espécie” que o que eu
afirmo dentro da minha área não seja percebido como saber, não seja percebido
como ciência, seja uma opinião e, como tal, passível de discussão com base
noutra opinião enquanto o discurso do meu interlocutor sobre a sua área de
intervenção seja “saber” pelo que um leigo como eu não o pode abordar de forma
séria.
Não é grave que se construa
opinião sobre qualquer assunto da nossa vida. É desejável e estimulante para
toda a gente que assim seja. O que me “mete espécie” é que se entenda que
opinião é ciência ou, quando convém, que a ciência não é ciência é opinião e
como tal deva ser tratada.
Ao fim de quarenta anos de lida
já estou mais habituado mas lá que me “mete espécie” … mete.
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