Um excelente trabalho no Público aborda
a situação e dificuldades no acesso e frequência de ensino superior por parte
de alunos com necessidades especiais. É sempre importante dar voz e
visibilidade aos problemas e constrangimentos que afectam elementos das nossas
comunidades. Os problemas identificados são vários, desde as acessibilidades,
aos recursos e apoios ou à falta de articulação com o ensino secundário que
possibilitaria uma transição mais fácil.
Em Abril, deputados do PS apresentaram
um projecto de resolução, Nº 358/XIII/1ª, Estudantes com Necessidades
Educativas Especiais no Ensino Superior, no sentido de tornar a frequência do
ensino superior mais “amigável”, por assim dizer, a alunos com necessidades
especiais. Não tenho conhecimento dos desenvolvimentos desta iniciativa.
Este projecto de resolução
envolve a disponibilização de apoio pedagógico personalizado e adequação do
processo de matrícula, das unidades curriculares, do processo de avaliação. É
ainda referido o incremento da ”potencialidades da era digital”.
Como disse na altura, por
princípio, qualquer iniciativa no sentido de minimizar a longa corrida de
obstáculos que é a vida das pessoas com necessidades especiais é bem-vinda e
merece registo.
Dados de 2014 mostram que em 94
de 291 instituições do ensino superior afirmaram a existência de serviços de apoio para alunos com deficiência. Actualmente a esmagadora maioria dos estebalecimentos, públicos e frivados afirma disponibilizar esses serviços.
No entanto, para além de aspectos
mais evidentes como a acessibilidade, creio que o apoio pedagógico e a
utilização de dispositivos diferenciados nos materiais de apoio das unidades
curriculares, da diferenciação nos processos de avaliação ou o recurso às
tecnologias, também referidos no trabalho de hoje no Público, não serão os
grandes obstáculos. Tenho alguma experiência de docência no superior com alunos
com necessidades especiais e não sinto que sejam estas as questões centrais.
Também não creio que a questão central seja a existência obrigatória de “serviços de apoio” a alunos com
deficiência embora tal possa depender da dimensão da insitituição. Do meu ponto de vista, procurar responder da forma a adequada às
necessidades de TODOS os seus alunos é a essência do trabalho de qualquer
instituição educativa e de qualquer docente, com maior ou menor dificuldade.
A questão mais importante
decorrerá, creio, das barreiras psicológicas e das atitudes, pessoais e
institucionais, seja de professores, direcções de escola, da restante
comunidade, incluindo, naturalmente, os alunos com necessidades especiais.
Também é minha convicção de que
as preocupações com a frequência do ensino superior por parte de alunos com
necessidades especiais é fundamentalmente dirigida aos alunos que que manterão
as capacidades suficientes para aceder com sucesso à oferta formativa tal como
ela existe. Aliás, esta situação é clara nos dados disponibilizados na peça.
No entanto, existe um grupo muito
significativo de alunos que desde muito cedo trancado num gueto chamado CEI
(Currículo Específico Individual) e acontece que muitos destes alunos no final
da escolaridade obrigatória são “aconselhados” a recorrer a instituições
especializadas que sendo uma resposta eventualmente ajustada para um grupo
pequeno não o é certamente para a generalidade.
Eu sei que existem boas práticas
mas já tenho referido por aqui muitas situações desta natureza.
E para estes há uma enorme
interrogação sobre o “depois” da escolaridade obrigatória, a institucionalização
generalizada não parece a mais ajustada em nome do que se defende para a sua
educação até aos 18 anos e para sua vida como cidadãos, educação e inclusão,
sendo certo que o recurso generalizado ao CEI não é, em muitos casos a forma
adequada de promover … inclusão.
A inclusão assenta em quatro
dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que
se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar
(envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns) e Pertencer
(sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade).
As pessoas com NEE de diferente
natureza depois dos 18 anos devem ser, estar, participar e pertencer aos
contextos que todas as outras pessoas com mais de 18 anos estão.
Porque não podem frequentar
estabelecimentos de ensino superior? Sim, frequentar o ensino superior onde
estão jovens da sua idade e em que a oferta formativa e a experiência
proporcionada podem ser importantes.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas
experiências noutras paragens mas também por cá mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
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