Quem quer um estagiário de borla e à experiência durante dois dias?
De acordo com o EUROSTAT em
Portugal, dados de 2015, existiriam 248 000 jovens, 14,6%, entre os 18 e os 29
anos que não estudam nem trabalham, a geração “nem, nem”, um termo e uma
dimensão devastadora. Se alargarmos ao intervalo até aos 34 anos teríamos
15.2%, 363 000 jovens e jovens adultos nessa situação. Impressionante.
Tal como mostra a notícia que
motiva estas notas é recorrente a utilização abusiva e escandalosa de estágios
profissionais não remunerados, sobretudo de jovens qualificados, situação que
permite aos empregadores aceder a mão-de-obra gratuita por alguns períodos de
tempo, expediente que podendo ter impacto nas estatísticas não muda a vida das
pessoas, antes pelo contrário, é um atentado à sua dignidade e direitos.
Por outro lado, a precariedade
nas relações laborais quase duplicou na última década. Portugal é o segundo
país da Europa, a seguir à Polónia, com maior nível de contratos a prazo. Por
outro lado, as políticas de emprego em curso continuam a insistir na maior
flexibilização das relações laborais.
Neste cenário, os desequilíbrios fortíssimos
entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da legislação laboral
favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de quem decide,
promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas
ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de
"estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a
merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade.
Acontece ainda que alguns dos
vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas,
não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta
dramática situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai
esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
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