O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior anunciou que se realizará em 2017 uma avaliação aos centros,unidades e laboratórios de investigação. Essa avaliação será realizada com base num conjunto de critérios a definir por um grupo de trabalho que, deve registar-se, é coordenado por uma investigadora da área das Ciências Sociais, uma área fortemente penalizada pela negrura crática que se abateu sobre o sistema de investigação em Portugal.
Esta nova avaliação, os seus objectivos e a metodologia anunciada é uma muito boa notícia face ao que foram os últimos anos em matéria de avaliação de ciência produzida em Portugal e o seu devastador impacto no financiamento à investigação.
A coisa resume-se facilmente. A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda European Science Foundation para um trabalho extraordinário, liquidar parte significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das entidades deveria ser eliminada logo na primeira fase e a ESF que fizesse o trabalho. Para dar suporte às decisões recorreu-se de forma absolutamente delirante à tirania dos índices bibliométricos através da Elsevier e constituíram-se equipas de avaliadores que sem dar a cara se dispuseram a fazer o trabalho sujo, eliminar 50% dos centros e laboratórios da passagem à fase seguinte da avaliação, objectivo constante do contrato estabelecido como veio a saber-se posteriormente.
O resultado deste tenebroso processo é conhecido com sucessivos exemplos de avaliações sem fundamento e tomadas de posição de investigadores e estruturas, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Nas avaliações realizadas verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de áreas científicas por avaliadores fora dessa área e sem peso científico, avaliações completamente contraditórias, mal fundamentas, sobre o mesmo trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi, vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com resultados importantes e reconhecidos têm fortemente comprometido, quando não impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade ética e politicamente delinquente. Aliás, correm ainda processos de recurso e mesmo de natureza legal face a esse desastroso processo e suas consequências
Nada disto quer dizer, evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os apoios financeiros.
A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente, com critérios claros e por avaliadores reconhecidos e competentes nas áreas que avaliam.
Por isso, a agora anunciada nova avaliação é, de facto, uma boa notícia.
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