Nas últimas semanas tenho tido
várias conversas com educadores e professores e, independentemente do pretexto
para o seu início, s diálogos vão quase sempre parar aos prolemas que os miúdos,
mais novos ou mais velhos, vão mostrando.
Os tempos estão difíceis e
crispados para boa parte dos adultos, incluindo naturalmente os educadores, e para os
miúdos a estrada também não está fácil de percorrer.
Alguns vivem, sobrevivem,
em ambientes familiares disfuncionais que comprometem o aconchego do porto de
abrigo, afinal o que se espera de uma família.
Alguns percebem, sentem, que o
mundo deles não parece deste reino, o mundo deles é um bairro insustentável
que, conforme as circunstâncias, é o inferno onde vive ou o paraíso onde se
acolhe e se sente protegido.
Alguns sentem que o amanhã está longe de mais e um
projecto para a vida é apenas mantê-la. Alguns convencem-se que a escola não
está feita para que nela caibam.
Alguns sentem que podem fazer o que quiserem
porque não têm nada a perder e muito menos acreditam no que têm a ganhar.
Alguns outros vivem em famílias
em que aparentemente não (lhes) falta nada … a não ser o essencial, afecto, tempo,
disponibilidade.
Alguns outros ainda vivem meio
abandonados, quase entregues a si próprios mesmo no meio da família.
Alguns destes miúdos, sobretudo
os mais novos, vão carregar para a escola uma dor de alma que sentem mas não
entendem, por vezes. A escola também sente, naturalmente, dificuldade em ler e
ajudar estas crianças, falta o tempo sobra o currículo, faltam os apoios sobra
a burocracia, falta o tempo sobra uma eternidade na escola, etc.
Não, não tenho nenhuma visão
idealizada dos miúdos, nem acho que tudo lhes deve ser permitido ou desculpado
e também sei que alguns fazem coisas inaceitáveis e, portanto, não toleráveis.
Só estou a dizer que muitas vezes
a alma dói tanto que a cabeça e o corpo se perdem e fogem para a frente atrás
do nada que se esconde na adrenalina dos limites.
Espreitem a alma dos miúdos, sem
medo, com vontade de perceber porque dói e surpreender-se-ão com a fragilidade
e vulnerabilidade de alguns que se mascaram de heróis para uns ou bandidos para
outros, procurando todos os dias enganar a dor da alma.
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