terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

OS ZERISTAS, OS DOS "HORÁRIO ZERO"

O ME terá reconsiderado e não envia 58 professores para o regime de mobilidade especial assim como manda regressar às escolas os docentes que estavam integrados numa prateleira insultuosa chamada “requalificação” que foi entretanto extinta.
Estes professores são os chamados “zeristas”, têm “horário zero”, uma expressão que desde a primeira vez que a ouvi me causa sempre algum inquietação.
Estes docentes que integram um grupo que já teve muitas centenas e que entre o desemprego e a repescagem serão agora menos são profissionais com anos de experiência avaliada e que estão sem alunos.
Conforme já escrevi frequentemente, entendo que as necessidades de docentes do sistema educativo constituem uma questão complexa e com múltiplas variáveis que deve ser tratada de forma séria, competente e serena o que não tem acontecido.
Para além das oscilações da demografia que são abordadas de forma habilidosa e não justificam a saída de dezenas de milhares de professores nos últimos anos, entre essas variáveis destacam-se a criação dos insustentáveis mega-agrupamentos, mudanças curriculares destinadas a poupar professores e o aumento de alunos por turma que, não servindo a qualidade da educação, reduziu o número de lugares de docentes.
Este quadro promoveu, naturalmente, um problema de absorção de muitos docentes, já no sistema, e que correm o risco de passar aos chamados “horários zero”, bem como na estabilização dos que se mantêm contratados durante anos por conta das eternas necessidades transitórias.
Conhecendo os territórios educativos do nosso país, sempre defendi fazer sentido que os recursos que já estão no sistema, pelo menos esses e incluindo os contratados com muitos anos de experiência, fossem aproveitados, por exemplo, em trabalho de parceria pedagógica, para possibilitar a existência em escolas mais problemáticas de menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades. Estas medidas no âmbito de uma autonomia real das escolas seriam possíveis e um contributo importante.
Os estudos e as boas práticas mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
Sendo exactamente estes os dois problemas que afectam os nossos alunos, talvez o investimento resultante da presença de dois docentes ou de mais apoios aos alunos, compense os custos posteriores com o insucesso, as medidas remediativas ou, no fim da linha, a exclusão, com todas as consequências conhecidas.
É só fazer contas. Em educação, apesar de da necessidade de contenção não existe despesa, existe investimento.

Sem comentários: