A agenda das consciências assinala
hoje o Dia Mundial de Combate ao Bullying. Algumas notas na linha do que
frequentemente aqui tenho escrito.
Nos contextos educativos, dada a
gravidade e frequência com que ocorrem episódios de bullying nas suas
diferentes formas, torna-se imprescindível que lhes dediquemos atenção
ajustada, não sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança
e ansiedade, nem desvalorizando. pode negligenciar riscos e sofrimento.
Importa considerar desde logo que
a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são
relatados. A UNICEF estima que uma em cada três crianças e adolescentes será
vítima de bullying.
Uma das características do
fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente cyberbullying, é
justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que,
evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção
proactiva e preventiva de adultos, pais, professores ou funcionários.
Considera-se que nos últimos três
anos o fenómeno tenha provocado pelo menos 12 suicídios nos Estados Unidos.
Recordo ainda que foi anunciado em Setembro de 2013 que a Direcção-geral de
Saúde iria promover em várias escolas do país durante este ano lectivo um
projecto de prevenção do suicídio dirigido a adolescentes. Felizmente, a
taxa de suicídio adolescente em Portugal não é muito alta, embora um só caso já
seja uma tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza auto-destrutiva
são bem mais prevalentes do que se pensa. Em algumas circunstâncias, mais tarde
estes comportamentos podem culminar em suicídio.
Neste universo importa considerar
dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a
intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez
e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou
repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e
ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo ou a
desvalorizar ocorrências têm, do meu ponto de vista, falado mais alto que as
vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além
da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o
bullying teve durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000
visitas e respondeu a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a
necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais
para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio.
Lamentavelmente, este serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de
resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das
insuficiências na formação de técnicos e de professores sobre esta complexa
questão, desde logo para o seu reconhecimento. A existência de dispositivos de
apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes é, a par de
ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e de uma
séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o
argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são
incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil
dizer qualquer coisa mas, sendo necessário, já é tarde.
Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal estar a que, por vezes, não
damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não
devem, ser ignorados ou desvalorizados.
O resultado pode ser trágico.
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