“A escola está a regredir em relação às questões da inclusão”
Certamente a propósito da conferência
promovida hoje pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre "A Inclusão
nas escolas" a que, lamentavelmente, a lida profissional não me deixa assistir,
o Público entrevistou o Professor David Rodrigues, um dos oradores na
Conferência, que, com chamada a título da peça, afirma "A escola está a
regredir em relação às questões da inclusão".
Algumas notas sobre esta matéria
que, recorrentemente, aqui abordo.
Uma primeira referência para uma discordância de enunciado, não de princípios, com David Rodrigues. Do meu ponto de vista a escola não está regredir em relação às questões da inclusão, é mais complexo, a
escola, ou melhor, o que estão a fazer da escola pública, está regredir em relação
às questões da EDUCAÇÃO.
Na verdade, é mais difícil falar
sobre uma "escola inclusiva" num tempo em que a Educação, no sentido
mais nobre e vasto do termo, está revista em baixa. A EDUCAÇÃO está a
transformar-se cada vez mais em Aprendizagem de competências instrumentais
normalizadas e que de Inclusiva tem muito pouco? No feliz enunciado em inglês do
Professor Biesta, caminhamos de "Education" para
"Learnification".
Logo de muito novos os miúdos
começam a passar por sucessivos crivos, exames escolares ou Classificações de
outra natureza.
Muitos são identificados por
etiquetas, "repetentes", "dificuldades de aprendizagem",
"necessidades educativas especiais permanentes",
"hiperactivos" "autistas", etc., agrupam-se os miúdos com
base nessas etiquetas, do ensino vocacional, às unidades ou escolas de
referência e guetizam-se por espaços, entre a escola e as instituições, de novo
e cada vez mais.
É verdade que também temos excelentes
exemplos de trabalho em comunidades educativas que, tanto quanto possível e com
os recursos de que dispõem, se empenham em estruturar até ao limite ambientes
educativos mais inclusivos em que todos, mesmo todos, participem. Como sempre
afirmo, a participação é um critério essencial de inclusão.
Devemos, então, falar do copo
meio ou do copo meio vazio? Sublinhando o que de bom fazemos, enquanto
existirem, e existem cada vez mais, copos por encher é preciso insistir.
insistir.
Existem miúdos que não estão ou
não se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que estão, não
“integrados” mas “entregados”, por várias razões e nem sempre por dificuldades
próprias.
Existem pais que não estão ou não
se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que os seus filhos cumprem
os dias.
Existem professores que não estão
ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa onde se empenham e
querem trabalhar apesar dos meios e recursos tantas vezes insuficientes e
desadequados.
Existem orientações normativas e
políticas que, sempre em nome da inclusão, acabam por promover ou facilitar a
exclusão. É também de recordar o desinvestimento continuado nos apoios a alunos
com necessidades educativas especiais com falta de recursos humanos
qualificados, suficientes e disponibilizados em tempo oportuno, falta de
técnicos especializados e funcionários nas escolas, problemas de
acessibilidade, turmas com um número de alunos acima do definido legalmente,
falta de formação adequada, etc. Estes problemas têm vindo a ser
continuadamente referidos pela Inspecção-geral de Educação e também pelo CNE em
Relatório divulgado em Junho. referi.
Existem direcções, poucas
evidentemente, que gostariam de ver as suas escolas ou agrupamentos mais “bem
frequentadas”, alguns miúdos só criam dificuldades e atrapalham os resultados
das escolas.
O espaço aconselha contenção e por
isso, apenas, uma nota final, os princípios da educação inclusiva, quando
devidamente enunciados, estão comprometidos, é verdade. Mas também está a ser gravemente
comprometida a EDUCAÇÃO para TODAS as crianças.
Sem comentários:
Enviar um comentário