quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A LIQUIDAÇÃO, PERDÃO, AVALIAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA EM PORTUGAL

"Opinião enfurece fundação europeia que avaliou ciência portuguesa para a FCT"

A coisa resume-se facilmente. A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda European Science Foundation para um trabalho extraordinário, liquidar parte significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das entidades deveriam ser eliminadas logo na primeira fase e a ESF  que fizesse o trabalho. Para dar suporte às decisões recorreu-se de forma absolutamente delirante à tirania dos índices bibliométricos através da Elsevier e constituíram-se equipas de avaliadores que sem dar a cara se dispuseram a fazer o trabalho sujo, eliminar 50% dos centros e laboratórios da passagem à fase seguinte da avaliação, objectivo constante do contrato estabelecido como veio a saber-se posteriormente.
O resultado deste tenebroso processo é conhecido, pode aceder-se a muitos exemplos no blogue Rerum Natura e na imprensa onde têm sido reportados sucessivos exemplos de avaliações e tomas de posição de investigadores e estruturas.
Nas avaliações realizadas verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de áreas científicas por avaliadores fora dessa área e sem peso científico, avaliações completamente contraditórias, mal fundamentas, sobre o mesmo trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi, vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com resultados importantes e reconhecidos têm fortemente comprometido, quando não impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade etica e politicamente delinquente.
Nada disto quer dizer, evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os apoios financeiros. A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente, com critérios claros e por avaliadores reconhecidos e competentes  nas áreas  que avaliam.
Também sem surpresa e na linha das apreciações do Ministro Nuno Crato, o Presidente da FCT, Miguel Seabra, afirmou que o processo foi competente e adequado, promove a excelência, o rigor ... blá, blá, blá. Trata-se do estranho entendimento de normalidade que faz escola no MEC. 
Agora, depois de múltiplas críticas nacionais e internacionais a este processo a ESF ameaça com um procedimento legal uma investigadora espanhola que referiu em artigo na Nature este sórdido processo.
É a cereja em cima do bolo. Não se pode opinar desfavoravelmente aos inquisidores, como lhes chamou José Vítor Malheiros em artigo no Público. Eles zangam-se e ameaçam com os tribunais. Um filme negro já visto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Notada a ausência do Sr. Ministro da Educação, bem como, do Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior, de cerimónia pública relevante, será que ambos estão no estrangeiro, ou doentes, ou será que o Governo está à deriva, e os responsáveis pelo ensino superior optam pela não participação em cerimónias públicas, ainda que incomodas pelo incumprimento de promessas anteriores…