O Sínodo dos Bispos centrado na
família, realizado estes dias no Vaticano convocado pelo Papa Francisco,
terminou sem que mudanças significativas sobre a relação dos homossexuais com a
Igreja, a união de homossexuais e a possibilidade de que divorciados e
recasados tivessem acesso à comunhão fossem aprovadas embora recolhessem apoio
maioritário nos bispos presentes, incluindo posições públicas do Papa.
Sem surpresa, apesar de alguns
discursos e comportamentos do Papa Francisco, a mudança na Igreja é difícil,
muito difícil.
Recordo que há alguns meses um
grupo de mulheres italianas escreveu ao Papa Francisco no sentido de promover a
mudança da posição da Igreja face ao celibato dos padres. A posição do Papa
Francisco ainda antes de ser Papa era contrária a essa mudança sendo, pois,
muito provável que nada se altere.
A propósito das mudanças na
Igreja, ou a sua ausência, considerando a influência que ainda mantém em
muitas comunidades, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito de
Setúbal, afirmava em 2012, em entrevista ao JN, que a Igreja não está à altura
do momento, está "atrasada" e não presta atenção às
"transformações do mundo".
A afirmação de D. Manuel Martins
lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a
história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica
afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo
heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a
reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais
desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não
reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando
um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhecia D. Manuel
Martins.
Um dia, talvez a instituição
Igreja aceite e perceba a importância e a necessidade de mudança no discurso e
nas atitudes relativas ao divórcio e casamento, às uniões entre pessoas do
mesmo sexo e adopção por parte destes casais, à anti-concepção, ao celibato dos
padres, à abertura do sacerdócio às mulheres, o combate à ostentação visível em parte das
estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se
tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio
que, apesar de alguns comportamentos e discursos do Papa Francisco e também da
significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, seja de
esperar um movimento de alteração significativa nas posições da Igreja sobre
estas matérias.
Eppur si muove.
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