O calendário das consciências
manda que hoje se assinale o Dia Internacional do Idoso. Pensemos então um
pouco nos idosos.
Vejamos alguns indicadores
relativos às circunstâncias de vida dos mais velhos. Portugal tem 20% da sua população
acima dos 65 anos e a tendência é a continuação do envelhecimento. Portugal é o
7º país da Europa com maior percentagem de idosos a viver sós abaixo do limiar
de pobreza, 23,6%, muitas isoladas como os Censos de 2011 revelaram. Acresce
que 77.9% dos velhos têm pensões inferiores ao salário mínimo sendo que apenas
permite genericamente cobrir custos de habitação, sendo que 90% vivem
exclusivamente das pensões.
As despesas de estadia nos lares
e centros de acolhimento são bastante mais altas que os rendimentos dos velhos,
pelo que se torna necessária a comparticipação das famílias para além dos
apoios do Estado. Dadas as dificuldades que também afectam as famílias, estas
estão a sentir progressiva dificuldade em assegurar essas comparticipações.
Numa altura em que continua na
agenda a reforma do estado que, parece, assenta nos cortes das suas funções
sociais este cenário exige uma profunda atenção.
A discussão necessária sobre o
chamado estado social decorre num contexto particularmente adverso que pode,
existe esse sério risco, fazer emergir ameaças sobre a sua sustentabilidade e,
naturalmente, sobre a sua matriz conceptual.
Na verdade e pensando sobretudo
no quadro actual e futuro próximo, a nossa população mais velha vive de uma
forma genérica em condições muito precárias, como também sabemos que a
população mais jovem é a mais exposta ao risco de pobreza para além dos velhos.
Aliás, como é conhecido a tragédia do desemprego afecta sobretudo os mais novos
e os mais velhos.
Os idosos começam por ser
desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis,
transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela
sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde
que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico
de família. Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja
pelas suas próprias dificuldades, não se constituem como um porto de abrigo,
sendo parte significativa do problema e não da solução. Por outro lado e para
além dos custos das instituições importa ainda considerar a acessibilidade da
oferta e a respectiva qualidade como tem vindo a ser conhecido envolvendo ainda
a clandestinidade de algumas das respostas.
Se olharmos para o conjunto de
dados que vão sendo disponibilizados sobre este universo, verifica-se que as
condições estruturais se mantêm sem alterações, estamos na mesma posição de
pobreza há vários anos e, por outro lado, as condições conjunturais, a crise,
acentuam a preocupação com a pobreza e com a velhice o que define um cenário
altamente inquietante em termos de confiança no futuro e na desejada e
necessária qualidade de vida.
Temos vindo a assistir a um
acréscimo de dificuldades das organizações de solidariedade social no
providenciar de apoios às dificuldades crescentes da população, sobretudo à
mais idosa conhecendo-se a situação de “asfixia” de muitas instituições, e
retorna a mendicidade ou o bater à porta das instituições, porventura de forma
mais envergonhada e a atingir camadas diferentes.
Neste cenário, todas as medidas
que de alguma forma atinjam os mais velhos devem ser objecto de uma extrema
reflexão no sentido de evitar que se acentuem as dificuldades no (sobre)viver
de uma parte significativa da população portuguesa.
Lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice. Não é um fim bonito para nenhuma
narrativa.
Se a este quadro já instalado
acresce o envelhecimento progressivo, o futuro exigirá mudanças substantivas e soluções
novas, por exemplo, o estudo e desenvolvimento de algumas formas de vida activa
uma vez que boa parte das pessoas mais velhas refere o desejo de
poder manter algum tipo de actividade após a reforma.
Este país não estando a ser para
jovens vai ter que ser para velhos.
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