"Portugal lidera top de apostas por pessoa no Euromilhões"
Para finalizar o dia uma nota a correr sobre uma notícia que fazia a manchete de hoje do JN e que me parece
curiosa e elucidativa. Somos o país europeu que mais investe "per capita" no Euromilhões, ou
seja, queremos mesmo ser "excêntricos".
Ao que parece, o Euromilhões
estabeleceu-se firmemente na vida de muitos de nós e criou mesmo uma imagem
criadora de futuro que nos move. Importa reconhecer que as imagens criadoras de
futuro são imprescindíveis, tanto mais quando atravessamos tempos duros
marcados por desesperança.
Voltando ao Euromilhões, julgo
que se pode afirmar que em muitos lares portugueses e hoje mais do que nunca,
uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o euromilhões, para deixar de
trabalhar”. Muito provavelmente, cada um de nós já ouviu, pensou ou disse esta expressão alguma vez
ou vezes. Creio também que não é usada apenas pelos cidadãos com maiores
dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização.
Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor
substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar
superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O
que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de
trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu
valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo
acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado
profissional da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa
possível”. Não será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Sabem qual é a minha inquietação?
É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu mundo “laboral”,
desatam a pedir um aumento de mesada que lhes permita apostar no Euromilhões
para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.
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