sábado, 3 de agosto de 2013

COPY, PASTE

...
E de que serve o livro e a ciência
se a experiência da vida
é que faz compreender a ciência e o livro?
...
(In A Cena do Ódio de Almada Negreiros)

Lembrei-me deste pequeno excerto da enorme obra de Mestre Almada a propósito de um trabalho interessante, divulgado no Público e referido em cima, de comparação entre os textos dos memorandos assinados com os vários países a sofrer programas de ajustamento. A análise evidencia uma estranha mas previsível semelhança, remetendo para situações agora tão em uso, “copy/paste”.
Na verdade, meia dúzia de iluminados da área da economia e finanças, às vezes até com bases erradas, têm produzido um conjunto de modelos e políticas que clara e assumidamente conduzem ao empobrecimento e à exclusão de boa parte da gente.
As políticas são decididas recorrendo a infalíveis "modelos econométricos", pensadas numa redoma asséptica e virtual, fora da realidade e aplicadas tal e qual, em qualquer contexto, independentemente das suas especificidades.
As pessoas são liofilizadas e encerradas nas folhas de Excel que traduzem nos ecrãs os modelos sofisticadíssimos que geram e gerem a agonia em que a vida de milhões se tornou, devido às experimentações que alguns poucos cientistas com uma fé cega e mágica nos seus modelos teóricos que enchem manuais e artigos que circulam entre o restrito grupo dos iniciados e eleitos e os levam, numa espécie de circuito fechado, à produção de mais modelos e mais teorias sempre com a mesma orientação.
As teorias e os modelos estão sempre certos, como não, a ciência não erra, por isso é ciência.
As pessoas, a vida das pessoas é que é desconforme, não cabe nos modelos mas não tem problema, muda-se a vida das pessoas mesmo que para bem pior, os modelos estão certos.
Esta gente não vai ser capaz de compreender a vida das pessoas, não vai compreender o desespero do desemprego e do roubo à dignidade. Não vai perceber como a sobrevivência de mão estendida insulta e envergonha.
Esta gente não é gente, não tem alma nem coração. Já morreram mas ainda não deram por isso.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

Se todos os desejos fossem raiva
E todos os teus gritos vagabundos
E todos os teus gestos só enredos
De uma novela fora deste mundo

Se todos os teus choros fossem raiva
E os teus dedos pontas de navalha
Os olhos, de repente, a luz que crava


Lembrei-me de Luís Represas na HORA DO LOBO.

A Europa precisa urgentemente no seu seio, de países que estejam na HORA DO EMPOBRECIMENTO E EXCLUSÃO, para mais fácilmente os explorar e assim combater a concorrência Asiática de produção LOW COST.

Isto para mim, repito, PARA MIM, É EVIDENTE!


VIVA!