segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

TEMPO DE TRABALHO E PRODUTIVIDADE

Desde que surgiu a intenção de introduzir mais meia hora no horário de trabalho a questão do tempo entrou na agenda e a discussão tem sido, do meu ponto de vista, contaminada por alguns equívocos, sobretudo na ligação estabelecida com a produtividade, cujo incremento é necessário.
Já aqui afirmei a este propósito que tenho a convicção de que o problema da produtividade é, fundamentalmente uma questão de melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, algumas opiniões ouvem-se neste sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horário laboral semelhantes à nossa. O I na edição de hoje refere um oportuno relatório sobre este universo na União Europeia e percebe-se que contrariamente a alguns entendimentos que a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a competitividade e produtividade sejam das mais baixas.
Parece assim claro que a produtividade não decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado, factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. O relatório citado no I vem sublinhar isto mesmo.
Relembro que os empregadores portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e micro empresas, as que asseguram a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns nichos.
Neste cenário, a decisão de aumentar o horário de trabalho, com redução de feriados, dias de férias ou a enunciada introdução de meia hora no horário diário, não parecem ser, só por si, as soluções milagrosas de incremento da produtividade.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado e consistente de apoio à modernização e formação dos empregadores e quadros do tecido empresarial do que baixar custos do trabalho pelo recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária.

5 comentários:

Luis disse...

Infelizmente somos governados por gente semi-analfabeta sem a mínima ideia daquilo que anda a fazer (e também a dizer). Produtividade é a relação entre a produção e o tempo de trabalho, é basicamente uma equação onde se divide o fruto do trabalho pelo tempo que se demorou nele. Para quem ainda não percebeu eu explico em termos mais simples ainda: se um alemão demorar 6h para fazer uma coisa que um francês demorar 6h15 e um português 8h, isso significa que ao fim de um mês o alemão terá produzido 29 coisas, o francês 28 e o português apenas 25.

Se por acaso os salários fossem todos iguais então para pagar o salário do Português as tais coisas que ele produziu teriam de ser 31% mais caras que as do alemão.

A produtividade depende assim, como é fácil de adivinhar da qualidade dos trabalhadores, e organização com do trabalho, sendo que esta depende portanto da qualidade das chefias já que são elas que planeiam o trabalho. Como não penso que os trabalhadores Portugueses sejam pouco esforçados, é assim fácil concluir que as chefias Portuguesas, como o Zé bem explicou nesta entrada do blogue, deixam muito a desejar.

Só que, ao contrário do que seria de esperar, em Portugal em vez de se tentar melhorar estas chefias decide-se em vez disso aumentar as horas de trabalho e baixar os ordenados, pensando-se assim "aumentar a produtividade". Oras isto é uma falácia, a produtividade continua baixa como sempre, simplesmente trabalha-se mais e ganha-se menos para compensar a diferença de produção.

A culpa é das empresas? Penso que não. Em Portugal não há, nunca houve, e é possível que tão cedo não vá haver uma cultura de mérito. Quando os quadros dos partidos pululam em tudo porque tudo passa pelo estado e o estado tudo asfixia, e esses mesmos quadros dos partidos são duma (in)competência arrepiante sendo que à sua volta nada deixam crescer precisamente para que essa incompetência não se faça notar, é assim difícil a qualquer pessoa progredir simplesmente pelo mérito do seu trabalho.

Em Portugal a competência é pecado, severamente punida, sendo que para o compensar aumentam-se as horas de trabalho... mas apenas dos trabalhadores, as chefias essas têm sempre coisas mais importantes para fazer.

Zé Morgado disse...

Luís, embora o quadro seja genericamente negativo, importa que por justiça não nos esqueçamos de algumas boas experiências que também existem por cá, ainda que, evidentemente e como o povo diz, "uma andorinha não faz a primavera"

Luis disse...

Sim há boas, mas é muito difícl competir. Por exemplo, em informática, uma empresa pode ser muito boa e praticar bons preços, e ainda assim ver um contrato ir para uma mediocre que cobra mais apenas porque pertence a uma certa pessoa.Exemplos disto, concretos, que eu presenciei ainda não há muito tempo, não faltam. Como se costuma dizer, há coisas que nunca mudam...

Anónimo disse...

Perfeitamente de acordo com o texto inicial.
MJM

Supravizio disse...

Prezados,

No Brasil também enfrentamos este tipo de problema, embora o momento econômico seja diferente, e no nosso blog discutimos como gestores podem resolver esta questão com o uso de Workflow: http://www.supravizio.com/Noticias/ArtMID/619/ArticleID/63/Porque-trabalhamos-tanto-exame.aspx

Wallace Oliveira.
www.supravizio.com