terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O RAPAZ QUE NÃO SE CALAVA

Num destes dias em que se realizavam as reuniões para avaliação do primeiro período a professora Paula encontrou o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros e deu para um tempinho de conversa.
Quase no Natal e uns dias de paragem, sabem bem Velho.
Também acho Paula, que tal foi o trabalho da miudagem neste primeiro período?
Achamos sempre que podia ser melhor mas foi razoável. Existem sempre alguns problemas em todos os grupos mas também ainda estamos no começo, vamos ver se as coisas se compõem. Ainda há pouco na reunião do 6º B estivemos algum tempo a conversar sobre o Marco. Estamos preocupados, em várias disciplinas os resultados são baixos. Todos nós achamos que é um miúdo muito esperto, sabe imensas coisas fora dos programas, mas passa o tempo todo a falar, não se cala um minuto e em todas as aulas. Não é que seja mal comportado, apenas está permanentemente a fazer perguntas e a conversar. Dá ideia que lê e pesquisa sobre várias coisas porque fala com algum conhecimento mas no que toca a tarefas escolares não funciona bem. Sempre que lhe dizemos alguma coisa, quase nem deixa falar e faz discursos sem fim. Quase não conseguimos conversar.
Sim Paula, conheço o Marco, ele vem às vezes aqui à biblioteca e comigo também é como dizes, fala pelos cotovelos, quase nem consigo falar para ele. Acho que ele faz assim porque tem medo.
Medo, não entendo muito bem, o Marco parece um miúdo tão seguro, sempre convencido dos saberes sobre tudo o que fala.
Parece seguro, ou melhor, precisa de parecer seguro, não acho que o seja. Não sei bem o que lhe pode causar o medo ou insegurança, mas creio que ele fala o tempo todo para que não falem para ele, ou seja, enquanto ele está a falar, não lhe fazem perguntas e é ele a escolher de que fala.
Agora que dizes isso lembro-me que numa reunião a mãe do Marco disse que ele em casa tem momentos em que fica triste e estranhamente calado. Aqui na escola nunca reparámos, parece o mais seguro dos miúdos.
Pois é, temos que estar mais atentos, escutá-lo em situações mais aconchegadas, talvez sem se sentir tão à vista ele deixe perceber o que o inquieta.

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