segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

OS FIGURANTES

Como a todas as pessoas acontece-me reparar um dia em algo que já vi vezes sem conta sem me despertar qualquer tipo de atenção. Hoje, ao seguir as notícias televisivas aqui no meu Alentejo reparei numas pessoas, os figurantes, que aparecem sempre coladas às figuras com algum relevância política. Normalmente, seguem um passo atrás do Primeiro-ministro, ministro ou outra qualquer entidade que leve uma câmara de televisão a segui-la. Os figurantes constituem um grupo numeroso. Por este facto, nem sempre cabem no ecrã e então, assiste-se, por vezes de forma pouco discreta ao esforço para aparecerem. Compõem um sorriso circunspecto e enquanto a entidade é entrevistada é ver os figurantes a inclinar a cabeça em sinal de aprovação ao mesmo tempo que procuram compor um ar inteligente e condescendente para com a comunicação social. Têm a secreta esperança de merecer um primeiro plano que constitua prova de vida.
Uma outra versão muito interessante dos figurantes e do respectivo comportamento é o Parlamento. Enquanto os seus líderes parlamentares discursam ou respondem é reparar nas segundas linhas das respectivas bancadas, onde se alojam os figurantes. Riem-se se o líder solta uma piada, ainda que completamente sem graça e insultuosa da inteligência, aplaudem freneticamente qualquer coisa, ou o seu contrário, que seja dita pelo líder e, claro, fazem ouvir uns roncos a que chamam apartes sempre que alguém de outra bancada está no uso da palavra. No final das sessões, quando deambulam pelos corredores, portam-se como os primeiros figurantes que referi, sempre atrás do líder esperando que uma imagem na televisão prove que existem.
Esta gente fez-me lembrar o Incaracterístico, o alvo dos trezentos e sessenta e cinco aforismos constantes do notável “Ensaio sobre o termo da história” de António Vieira, felizmente reeditado.

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