domingo, 13 de dezembro de 2009

NÃO SE DIZEM ASNEIRAS

“Não se dizem asneiras” é das frases mais repetidas junto dos mais novos e das que mais graça me parece ter. Já uma vez aqui disse que a questão não é não dizer asneiras mas saber em que circunstâncias se podem dizer. Acho ainda engraçado a preocupação que os adultos têm com as asneiras ditas pelos miúdos e a indiferença perante as asneiras que diariamente ouvimos a gente mais crescida.
Vem esta introdução a propósito da polémica desencadeada pelo facto de o Presidente Lula da Silva, num discurso oficial a propósito do Programa Nacional do Saneamento Básico, ter afirmado que “quer retirar o povo da merda (até o meu corrector rejeita o termo) em que vive”, expressão que me parece contextualmente apropriada. Chocaram-se algumas almas com as palavras do Presidente que logo é desculpado por alguns pois as suas origens são populares e, como sabem, os pobres e analfabetos dizem asneiras, coitadinhos, é da educação.
Na mesma altura desta enormidade expressiva de Lula da Silva, assistimos numa Comissão Parlamentar da Assembleia da República portuguesa a uma troca de insultos e asneiras entre dois digníssimos deputados doutores, Maria José Nogueira Pinto e Ricardo Gonçalves, cujas origens e formação serão certamente as melhores. Este episódio configurou apenas uma demonstração de vivacidade da democracia parlamentar e sem importância de maior, os senhores deputados nunca dizem asneiras.
É por estas e por outras que vou continuar a rir-me sempre que oiço uma ingénua voz de adulto a querer convencer uma criancinha de que não se dizem asneiras.

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