terça-feira, 22 de dezembro de 2009

CIRCO DE FERAS

Os níveis de delinquência e o sentimento de insegurança que lhes está associado instalaram-se entre nós. Banalizou-se o relato na comunicação social de episódios de delinquência com recurso a violência bem como as referências a criminalidade económica e corrupção que sem a espectacularidade de outras áreas são também fortemente preocupantes. Apesar desta banalização, a atitude do cidadão comum face à delinquência obedece, creio, a uma gradação que depende da natureza do crime e das vítimas do crime, entre outros aspectos. Quero dizer com isto que o cidadão comum não representa da mesma maneira um crime económico sem violência ou um crime dirigido a crianças ou a velhos, por exemplo.
Do meu ponto de vista e sem, naturalmente, branquear ou desvalorizar diferentes comportamentos criminosos, a minha perplexidade surge da capacidade humana de infligir continuadamente e de forma consciente o sofrimento a outros humanos. Vem isto a propósito de um processo que envolve 59 indivíduos acusados de recrutarem gente vulnerável, dependentes de álcool e droga e pessoas com deficiência mental, e as levarem para herdades em Espanha onde, em regime de escravatura, eram obrigados a trabalhar sem remuneração, sem condições de alimentação e saúde e vítimas de maus-tratos físicos incluindo violação. Algumas das vítimas passaram anos nesta situação. Não consigo convencer-me que os donos das herdades desconheceriam o que se passava e acho que crimes desta natureza mostram o que de pior existe em nós, mais do que a tragédia de um homicídio no meio de um assalto. Sem hipóteses de perdão.

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