domingo, 24 de maio de 2009

SE EU FOSSE OPTIMISTA

O modelo de organização política instalado em Portugal e a praxis dos partidos, sobretudo dos que têm passado pelo poder, construíram uma eficaz partidocracia que gere o(s) poder(es) com base nos respectivos aparelhos, os donos reais da democracia. Este quadro tem produzido níveis progressivamente mais altos de abstenção e, simultaneamente, uma degradação progressiva da confiança dos cidadãos na classe política em geral.
O país vive há já algum tempo em campanha eleitoral, embora só hoje se inicie formalmente a campanha para as eleições europeias. Os sinais da pré-campanha não são animadores o que, lamentavelmente, não é surpresa. Se, nesta matéria, eu fosse um tipo com um mínimo de optimismo gostava que a campanha me permitisse perceber quais as diferenças entre PSD e PS no que respeita à relação entre a União Europeia e Portugal. Gostava, por exemplo, de perceber como pode o voto em partidos que não acedem ao controlo do Parlamento Europeu, como Bloco e o PC, influenciar as políticas definidas em Bruxelas por uma espécie de Bloco Central de interesses. Gostava de perceber que modelos de desenvolvimento sustentam os diferentes partidos, como equilibrar as necessárias políticas sociais com funcionamento liberal das economias e como estes equilíbrios se reflectirão na vida das pessoas, qual o compromisso entre a autonomia dos diferentes países e o centralismo normalizador e burocrata de Bruxelas, etc. Mas não acredito que a campanha me esclareça. Assistir-se-á ao folclore habitual da discussão de pessoas e afirmações, da retórica inútil, do “bate no governo”, “defende o governo” e a 7 de Junho os cidadãos desinteressados e resignados, omitindo a cidadania, dirão, “Votar? para quê, não vale a pena, isto não muda, nada”.

1 comentário:

Ana disse...

Professor,

Já ouviu aquela piada de que um pessimista é um optimista com experiência? Aqui parece-me adequada...
Ana