sábado, 9 de maio de 2009

HOJE CONHECI A D. GRACIETE

As salas de espera das instituições da saúde são um espaço estimulante e enriquecedor. Hoje dediquei boa parte do meu dia à revisão do corpo, a idade obriga. Com a sala de espera quase cheia, um dos poucos lugares disponíveis era ao meu lado. Senta-se uma senhora idosa, sénior como agora se diz, e, como é de um tempo em que as pessoas falavam umas com as outras mesmo sem se conhecerem, começou.
Temos que ter um lugar, onde nos encostarmos não é?
Claro, precisamos sempre de um lugar, até para esperarmos. Disse eu.
Tem razão, mas eu, com oitenta e dois anos já não vou esperar muito, já lá tenho o lugar à minha espera. O meu marido já lá está há vinte anos e está à minha espera. Não é que tenha pressa. Gosto de cá andar e enquanto me puder mexer não me quero ir embora. Às vezes já me assusto, olhe está a ver como estou (e tira os óculos escuros deixando ver umas marca negras à volta dos olhos), no outro dia caí na cozinha, nem sei quanto tempo estive a assim caída, depois lá consegui chamar a minha filha com o telemóvel. Sabe é que tenho diabetes e, às vezes, não me sinto bem. Fiquei com os olhos assim e até tinha vergonha de sair à rua. Não fosse eu já não ter marido há vinte anos ainda pensavam que ele me tinha batido. Não, mesmo que fosse vivo não era homem para isso. Nem eu deixava. Sempre fui uma mulher tesa, se me desse a primeira já não me dava a segunda que eu fugia, não temos que apanhar de ninguém. E cá ando, venho fazer os exames que a médica me mandou, espero que esteja tudo bem e o senhor? É muito mais novo que eu, tem alguma doença?
Quando me preparava para responder, chamaram a D. Graciete, era ela, para fazer os exames que a médica mandou.
Não sei quais serão os resultados mas acho que a D. Graciete sofre de solidão

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