Compreendo a acção do professor ao procurar no sistema de justiça uma reparação a um episódio que considerou insultuoso com que o sistema educativo não conseguiu, ou não quis, lidar. No entanto, fico embaraçado que uma situação de indisciplina com um adolescente de 16 anos, na altura do episódio, seja resolvida em tribunal, situação que, creio, muita gente aplaudirá. Será normal? Como é que podemos reforçar e alimentar a ideia de que na escola deveremos ser capazes e ter meios para resolver os problemas da escola, se começarmos a fazer derivar para os tribunais a gestão dos problemas de comportamento dos alunos. O que terá o ME a dizer sobre esta questão? Sabemos todos que os problemas no âmbito da indisciplina são frequentes e graves, mas passará pelos tribunais a sua minimização?
Parece-me que corremos algum risco de enviesamento na definição de papéis e de uma discreta desresponsabilização dos decisores e actores em matéria de educação, entregando à justiça algo que seria da sua competência e responsabilidade. Não me esqueço que, frequentemente, se colocam no mesmo saco, comportamentos de natureza diferente, isto é, podemos estar a lidar com indisciplina, pré-delinquência e delinquência ou perturbações de comportamento no âmbito da saúde mental. Neste quadro, a escola precisa de meios para avaliar as situações, para assumir o que se entende ser da sua competência e exigir que a comunidade tenha, ela própria, recursos para responder às questões de outras áreas de competência que, não sendo da escola, emergem na escola, pois os miúdos e adolescentes passam aí o seu dia.
Parece-me que corremos algum risco de enviesamento na definição de papéis e de uma discreta desresponsabilização dos decisores e actores em matéria de educação, entregando à justiça algo que seria da sua competência e responsabilidade. Não me esqueço que, frequentemente, se colocam no mesmo saco, comportamentos de natureza diferente, isto é, podemos estar a lidar com indisciplina, pré-delinquência e delinquência ou perturbações de comportamento no âmbito da saúde mental. Neste quadro, a escola precisa de meios para avaliar as situações, para assumir o que se entende ser da sua competência e exigir que a comunidade tenha, ela própria, recursos para responder às questões de outras áreas de competência que, não sendo da escola, emergem na escola, pois os miúdos e adolescentes passam aí o seu dia.
4 comentários:
Zé Morgado:passei, hoje,pela primeira vez por este teu sítio; em boa hora, porque, não tendo ainda ido ao teu perfil, me pareces falar como meu colega. Estou, como não podia deixar de ser , de acordo com as tuas afirmações. Somos nós ,Professores quem deve saber lidar com as situações do dia a dia. Estive 37 anos ao serviço dos meus alunos e creio que lhes dei o meu melhor, porque entendi sempre ,como mãe também, que a minha era a única ajuda de que eles dispunham.
Abraço de LUSIBERO
Caro Lusibero,
Quando se trata de educação, somo todos colegas. Os moçambicanos dizem que "para fazer uma casa bastam 4 homens mas para educar uma criança é preciso uma aldeia". Como vivo na aldeia e me preocupo com a educação somos colegas.
Vai aparecendo, um abraço
"Parece-me que corremos algum risco de enviesamento na definição de papéis e de uma discreta desresponsabilização dos decisores e actores em matéria de educação, entregando à justiça algo que seria da sua competência e responsabilidade"
Os CE não actuam. O professor tem sempre que fazer o ónus da prova de que não foi ele a provocar a reacção ao aluno/a.
O professor, na escola é logo considerado o culpado por não "saber lidar com a situação".
Imagine que ´diz ao seu filho para vir para a mesa. Uma vez, duas vezes, três vezes. Ele não lhe liga e não vem.
Vai ter com ele e volta-lhe a dizer, agora se calhar já um pouco alterado, para vir para a mesa. Ele não vem.
Ordena-lhe em tom que não admita contestação que o quer sentado à mesa.
Ele levanta-se, pega na mochila, manda um pontapé na porta do quarto, abre a porta de casa, e diz-lhe:
Quero que te fodas, meu grande filho da puta.
E vc responde-me:
o meu filho nunca faria isso.
E eu contraponho: mas há filhos de outros que o fazem.
E fazem-no onde, assumindo que não o fazem em casa?
Na escola.
Mas na escola, o que acontece?
o professor tenta promover o trabalho do aluno. o aluno não larga o tlm. o professor insiste. o aluno não larga.
o professor vai ter que interromper a aula pela enésima vez para dizer ao aluno que deixe o tlm e trabalhe que é para isso que está naquela sala. O aluno não tem mais nada:
levanta-se , pega nas coisas, manda um pontapé na porta e um calçudo em 3 colegas pelo caminho, vira-se para trás e declara:
"vá-se foder seu corno de merda, seu filho da puta. Emn mim ninguem manda."
Voce ficará perturbado, certamente... chateado, aborrecido, preocupado, a pesnar na vida.
Entretanto o próprio aluno já se pos a camibnnho do CE para fazer queixa ao Prseidente: que o professor implica com ele, que não o deixa em paz, que o persegue, que o estsva a chatear por causa do tlm quando ele apenas estava a mandar uma mensagem à mãe...
O Presidente, atira-lhe a primeira pergunta: em que aula foi isso? quem é o professor/a?
( a sua primeira preocupação)
é X.
O Professor/a X já tem neste momento um dedo apontado pois o PCE, em vez de ter dito: "
teu professor está a fazer o seu dever, que é por-te a trabalhar nas aulas", não demonstrou imediata segurança perante a atitude do professor ( que aparentemente só insistiu para que o tlm fosse posto de lado). Por outro lado, o PCE que já tem uma resma de relatos de situações ocorridas com aqeuele aluno sabe que o gajo não é boa peça. Sabe até ou até já eventualmente foi achincalhado, afrontado, quiçá agredido pelo pai/mãe/tio daquele ou doutro aluno equivalente qualquer.
Sabe também que é política corporativa ministerial não admitir a indisciplina, agressão e violência na Escola pq, bem vistas as coisas, se se espalha aquilo, significa que ele próprio não tem mão na sua Escola.
Que grande enredo não é?
Como tal, espera pacientemente que a coisa morra por si e que mais ninguém se recorde do momento em que o professor/a foi mandado para o caralho. Com um bocado de sorte, a coisa passa.
Este professor não recebeu da sua liderança, da estrutura hierárquica da Escola nem apoio nem uma concretização de medidadas sancionatórias relativamente ao aluno.
Como não quis levar o desaforo para casa, recorreu à Justiça do Tribunal, uma vez que o mecanismo de Justiça na Escola não funcionou.
Isto é cada vez mais assim, isto passa-se todos os dias em cada escola do país, do 1º ciclo ao secundário.
Acredite se quiser.
Mas olhe que é verdade....
Jake
Jake,
O teor do meu post vai exactamente no sentido de que à escola devem ser dados os meios (recursos, legislação e organização) para lidar com indisciplina. Mandar para tribunal uma situação que três anos depois acaba em multa, tendo valor simbólico, só por si não responde, creio. Delinquência, e problemas de comportamento, aparecendo na escola, transcendem a intervenção da escola. Pode acreditar que conheço bem a realidade que descreve.
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