O recente Relatório do CNE
recolocou na agenda a discussão sobre a duração as aulas, é cíclico.
A comparação com outros países, designadamente
no âmbito da OCDE, mostra que em Portugal é bastante mais utilizado tempos com 90 ou 100 minutos enquanto na maioria dos países o tempo da escola é
organizado por períodos de 45 ou 50 minutos.
Na discussão sobre esta matéria
convocam-se argumentos como mais trabalho não significa melhor trabalho ou,
noutra variante, quantidade não é igual a qualidade ou a idade dos alunos pela
implicação nos seus níveis e capacidades de concentração em tarefa.
No âmbito desta cíclica visita à “duração
das aulas” recordo a realização em 2015 na Assembleia da República de uma
Conferência sobre a Indisciplina Escolar em que David Justino, o presidente do
Conselho Nacional da Educação, discutia a duração das aulas, 45, 60 ou 90
minutos e a sua relação com a indisciplina, designadamente no ensino básico.
No mesmo sentido se pronunciou Filinto
Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamento e Escolas Públicas, afirmando
"É preciso diminuir o tempo lectivo
de 90 para 50 minutos. Estar numa sala de aula a ouvir alguns professores
durante 90 minutos é uma seca. Até para nós é dose".
Esta argumentação, "a aula é
uma seca" a que se junta a "imaturidade" ou "capacidade"
dos alunos mais novos estarem atentos causa-me alguma admiração sobretudo quando
subscrita por professores.
A duração de uma actividade
escolar, uma aula, não pode, do meu ponto de vista, ser analisada em termos
abstractos e concluir que 90 m é uma "seca" ou que alunos de 14 anos
não suportam 90 m e será melhor a aula durar 50 ou 45 minutos. Não esqueço que
para as crianças mais pequenas parece ajustado que a solicitação da sua concentração
em tarefas mais prolongadas seja prudente e isso está presente nos tempos definidos
na maioria dos países.
O que me parece de sublinhar é
que existem outras variáveis que contribuem de forma muito significativa para o
comportamento e rendimento dos alunos em actividades escolares.
Em primeiro lugar os conteúdos,
ou seja, os currículos, Está estudado e a experiência diz-nos que quanto mais
dermos sentido ao que estamos aprender, se compreendermos a funcionalidade das
aprendizagens a motivação sobre e, naturalmente, a atenção também. Assim, e
conforme afirmo de há muito existe uma forte relação entre a natureza dos
currículos que temos, extensos, prescritivos e inibidores de estratégias de
diferenciação por parte dos professores e os comportamentos dos alunos. Com os
modelos de currículos que temos tido parece mais difícil motivar os alunos e,
portanto, aumentar o seu rendimento e diminuir o risco de indisciplina. Não é
por acaso que o tema da duração das aulas reentrou agora na agenda a propósito
da “flexibilização curricular” que será ensaiada no próximo ano lectivo e a meu
ver, bem.
Aliás, lá vem de novo, veja-se a
este propósito o que publicamente é conhecido para fundamentar a reforma
curricular a realizar na Finlândia.
Em segundo lugar, a atenção dos
alunos, a sua concentração, para além dos conteúdos, está fortemente
relacionada com o trabalho dos professores, as metodologias, as actividades, o
clima em sala de aula, os recursos, etc. Todos temos experiência de "aulas
grandes" que são "secas pequenas" e "aulas pequenas"
que são "secas enormes".
Ainda no que respeita ao trabalho
dos professores, para além da sua formação e experiência, terão de ser
consideradas variáveis como o número e características dos alunos por turma, os
recursos e apoios disponíveis, a dimensão e tipologia das escolas questão associadas
à questão da motivação e concentração dos alunos e, portanto, à decisão sobre a
duração das aulas.
Considerando tudo isto é
essencial que possam ser as escolas, no exercício de uma autonomia real que
deveriam gerir e organizar os seus recursos, incluindo os tempos da escola e
até recorrer a modelos mistos.
Só um caminho, também neste
aspecto, de diferenciação, responder de forma diferente ao que é diferente,
poderemos promover qualidade.
Na verdade, não me parece fazer
muito sentido discutir em abstracto os tempos da escola e insistir nessa
discussão sem considerar devidamente outras variáveis. Corre-se o risco de desvalorizar
a sua importância, intencionalmente ou não.
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