domingo, 12 de março de 2017

OS PROFESSORES NUNCA SE REFORMAM OU VÃO DE FÉRIAS

Uma passagem de olhos breve pela imprensa online fez-me parar num trabalho do DN sobre gente aposentada e a história de uma professora que apesar de estar nessa condição continua envolvida em actividades no universo da educação.
Nos últimos anos milhares de professores saíram do sistema por aposentação, muitos deles mesmo ainda sem terminar a carreira profissional. Boa parte destes casos Muitos destes casos decorreram de decisões ligadas a alterações salariais e económicas mas também ao clima de desânimo que se foi instalando nas escolas, fruto de políticas que têm mais de contabilísticas que de educativas.
Recordo um estudo realizado no Porto envolvendo professores que mostrou que a maioria dos inquiridos revelava uma enorme dificuldade em desligar-se dos problemas de natureza profissional mesmo quando está fora da escola, em casa, por exemplo.
Não me lembro dos contornos específicos do estudo, mas os seus resultados inscrevem-se no conhecimento já adquirido de que a profissão docente é uma das mais sujeitas a stresse como, aliás, o são todas as que envolvem interacção social agudizando-se quando o contacto envolve tensão ou sofrimento, daí o stresse em docentes e em pessoal da área da saúde.
Esta expressa dificuldade dos professores em se abstraírem dos problemas de natureza profissional, recorda-me sempre algo que ouvi já há alguns anos a um Professor velho que quando comentei que a situação de reforma lhe dava descanso, se riu e disse que “professores e pais nunca se reformam ou vão de férias”.
Embora com uma pontinha de excesso que se desculpa, a dimensão ética e afectiva das funções, para além das questões profissionais no caso dos professores, é tão significativa que dificilmente se consegue “escapar” ainda que transitoriamente, e muito menos definitivamente, à condição de pai ou de professor. É bom de ver que este quadro está naturalmente mais presente nos bons professores, a esmagadora maioria.
Os bons professores, tal como os pais, têm sempre os alunos, os filhos, “perto” de si, ou seja, não lhes é fácil libertarem-se da inquietação que sentem com o bem-estar dos miúdos e com a qualidade do trabalho.
Em situações informais em que algum ou alguns professores estejam presentes é muito frequente que a conversa, mais ou menos rapidamente, se direccione para as questões da vida dos miúdos e da escola.
Não raramente, este envolvimento de muitos professores, horas extraordinárias por assim dizer, tem implicações na sua vida pessoal e familiar que muitos entendem ser “ossos do ofício” e ajudam a explicar os resultados do estudo que referi. Trata-se uma situação que conheço muito bem.
O Professor velho tem mesmo razão, os professores e os pais não se reformam nem vão de férias, estão sempre a tempo inteiro.
Muita desta gente que saiu e sai da escola, muitos a contragosto, na verdade não vai mesmo reformar-se da sua condição de professores, serão sempre professores. Obrigado por isso.

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