segunda-feira, 27 de março de 2017

DOS APOIOS ESPECIALIZADOS

Lê-se no Público que este ano tem aumentado o número de crianças e jovens que acedem ao Subsídio de Educação Especial destinado a apoiar a frequência de estabelecimentos de ensino especial e o acesso a apoios especializados não existentes nas escolas de ensino regular.
Continuam a verificar-se atrasos de natureza processual e decisões em que a equidade e igualdade de tratamento parecem comprometidas.
Este aumento do número de resultará de alterações de natureza legislativa e não do aumento do número de casos.
Este processo e as alterações que se têm verificado tem sido atribulado. Como várias vezes escrevi deveria ser repensado todo o modelo no qual assenta a prestação de apoios especializados a alunos com necessidades educativas especiais a frequentar estabelecimentos de ensino regular e o papel das instituições de educação especial.
Nesta reflexão deve ser incluído o processo de avaliação e decisão sobre necessidades e apoios que carece de melhoria face a situações bem conhecidas por quem tem alguma proximidade estas matérias e às quais já me tenho referido.
A introdução de ajustamentos de natureza processual não muda significativamente o conjunto de problemas enormes verificados, falta de recursos, falta de apoios, tempos de apoio que seriam ridículos se não estivessem em causa crianças e jovens com problemas sérios, etc.
Este conjunto de problemas é bem conhecido por parte de milhares de famílias. Não estranham mas sabem, sentem, que os seus direitos não são cumpridos.
Por outro lado, também o papel das instituições deve ser analisado pois fruto de uma característica comum a todo o nosso sistema educativo, a falta de regulação, coexiste o melhor e o menos bom sem que nada aconteça. As instituições devem ser essencialmente um recurso e não uma via.
Na verdade, apesar de boas práticas conhecidas e que merecem divulgação, em muitas circunstâncias desenvolve-se um trabalho inconsequente, assente em avaliações pouco consistentes, descontextualizado, mobilizando pouca participação e envolvimento nos contextos em que os alunos se inserem. Dito de outra maneira, o trabalho desenvolvido com estes alunos pode ser ele próprio um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Qualidade e educação inclusiva não são muito compatíveis com um modelo que assenta no "outsourcing", na falta de articulação, coerência e de um maior envolvimento das escolas, apesar de algumas boas práticas que se conhecem. Em boa parte dos casos trata-se alunos no cumprimento da sua escolaridade obrigatória para os quais os apoios são fundamentais.
Não é nada de novo, os mais vulneráveis são sempre os que sofrem mais.
Mas não é uma fatalidade, fazemos os dias assim, como cantam os Trovante.

Sem comentários: