Em evento hoje realizado com
organização do ME sobre o modelo de descentralização de competências em
educação o presidente do Conselho de Escolas alertou para a necessidade de
manter e promover a autonomia das escolas. Dito de outra maneira,
descentralização não é o mesmo que municipalização, um dos muitos equívocos presentes no universo da
educação em Portugal.
Como já tenho referido é
importante este equívoco seja considerado quando se discute os modelos de
descentralização que estão em fase de experimentação e cuja avaliação não é,
pelo menos para mim, conhecida.
Sabemos das reservas que
directores e professores e também pais e encarregados de educação têm
manifestado face ao modelo que tem sido
anunciado de “municipalização” que possibilitará que serviços, actividades e/ou
projectos, nomeadamente de administração escolar, papelaria, refeitório,
biblioteca, bem como serviços de apoio educativo, incluindo psicologia ou
desporto escolar, possam ser subcontratados a operadores privados.
O Conselho de Escolas e as
associações de directores bem como os professores temem a diminuição da
autonomia das escolas apesar da retórica da tutela.
Seria desejável uma avaliação
séria e externa das experiências em desenvolvimento.
Por outro lado, insisto na
necessidade de se considerarem com atenção os resultados de experiências de
"municipalização" realizadas noutros países cujos resultados estão
longe de ser convincentes. A Suécia, por exemplo, está assistir-se justamente a
um movimento de "recentralização" considerando os resultados, maus,
obtidos com a experiência de municipalização.
Por outro lado, o que se vai
passando no sistema educativo português no que respeita ao envolvimento das
autarquias nas escolas e agrupamentos, designadamente em matérias como as
direcções escolares, os Conselhos gerais ou a colocação de funcionários e
docentes (nas AECs, por exemplo) dá para ilustrar variadíssimos exemplos de
caciquismo, tentativas de controlo político, amiguismo face a interesses
locais, etc. O controlo das escolas é uma enorme tentação. Podemos ainda
recordar as práticas de muitas autarquias na contratação de pessoal,
valorizando as fidelidades ajustadas e a gestão dos interesses do poder.
Assim sendo, talvez seja mesmo
recomendável alguma prudência embora, confesse, não acredite pois não se trata
de imprudência, trata-se de uma visão, de uma agenda.
Ainda nesta matéria e dados os
recursos económicos que se anunciam através das verbas comunitárias para além
dos dinheiros públicos, parece clara a intenção política de aumentar o
"outsourcing", a intervenção de entidades e estruturas privadas que
já existem nas escolas, muitas vezes com resultados pouco positivos, caso de
apoios educativos a alunos com necessidades educativas especiais e do recurso a
empresas de prestação de serviços, (de novo o exemplo das AECs).
Está expressa nos Projectos de
contrato em funcionamento a intenção de contratar a privados a prestação destes
serviços nas escolas, incluindo no universo da inclusão, um modelo ineficaz
pois a intervenção de qualidade e adequada dos técnicos, designadamente de
educação ou psicólogos, depende, evidentemente, da sua pertença às equipas das
escolas e não é compatível com a prestação de serviços por técnicos de fora em
regime de "consulta".
Um modelo deste tipo, estruturas
e entidades privadas a intervir em escolas públicas, só é garantidamente bom
para as entidades a contratar, não, muito provavelmente, para alunos,
professores e escolas. Temo que “municipalização” possa ser um incremento e
apoio a um nicho de mercado.
Finalmente, importa desfazer o equívoco que referia acima, descentralização não significa municipalização e importa promover a autonomia o que é diferente. De acordo com
o modelo em desenvolvimento, esperemos para ver mais claramente o que o ME
proporá, e conforme os directores têm referido recorrentemente, a autonomia da
escola não sai reforçada, antes pelo contrário, passa para as autarquias por
delegação de competências do ME. O imprescindível reforço da autonomia das
escolas e agrupamentos não depende da municipalização como muitas vezes se
pretende fazer crer.
Mais uma vez, confundir autonomia
das escolas descentralização traduzida em municipalização é criar um equívoco perigoso dar cobertura aos negócios da
educação.
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