Como várias vezes tenho dito sou dos que entendo a necessidade de mudanças em matéria de currículo e também muitas
vezes tenho afirmado as razões para tal entendimento pelo que as deixo de lado.
A história recente mostra que as
dezenas de alterações que em matéria de currículo se foram produzindo sempre
aconteceram sem que se assegurasse a avaliação séria do que está em vigor e qual o sentido da
mudança. A experiência mostra ainda que as sucessivas alterações foram
produzidas sem que se procurasse, não digo um consenso pois sei que em educação
e em Portugal é quase impossível face a agendas e corporações de interesses,
mas o envolvimento e participação dos diferentes actores intervenientes nos processos
educativos na construção das alterações.
Finalmente, mostra ainda que os calendários e
a metodologia das mudanças raramente permitiram que se processassem sem
sobressaltos e com um mínimo de estabilidade.
Este acervo de experiência
deveria ajudar a que um novo processo de mudança contrariasse a fatalidade do “sempre
se fez assim”.
O que vai sendo conhecido em
matéria de currículo tem claramente aspectos
positivos mas também me suscita algumas dúvidas ou apreensão.
A visão de currículo parece-me
caminhar num sentido diferente para melhor, não porque seja nova, mas porque tenderá
a minimizar o impacto negativo de um currículo demasiado extenso, prescritivo,
normativo e pouco amigável para a diversidade entre os alunos pois “normaliza”
em excesso.
Parece-me também positivo que seja
ensaiado e que as escolas, pelo menos no que é afirmado, tenham autonomia para
gerir as alterações e a organização de conteúdos, tempos e tipologia de aulas entre outras dimensões.
Parece-me ainda positiva a alteração na gestão das opções no secundário alargando o leque de escolhas dos alunos
Parece-me ainda positiva a alteração na gestão das opções no secundário alargando o leque de escolhas dos alunos
As minhas dúvidas e apreensão radicam
em alguns aspectos.
Não me parece que as comunidades
educativas tenham a informação suficiente para que se entenda, discordando ou
concordando, a natureza e alcance das mudanças. Ainda não estabilizou a
definição do Perfil do Aluno para o Sé. XXI. Uma boa ideia mal vendida pode
transformar-se numa má ideia tal como uma má ideia bem vendida pode parecer uma
boa ideia. Na minha oinião o estado de graça com que arrancou Nuno Crato assentou neste último
enunciado.
Não percebo muito bem como a
visão e os objectivos anunciados são compatíveis com a manutenção dos conteúdos
curriculares designadamente das metas curriculares tal como estão definidas.
Esta análise solicitaria mais tempo e a introdução de alterações sob pena de se
criarem constrangimentos do tipo, “está previsto mas não se dá”.
Como será gerido o tempo dos
docentes dada a sua “arrumação” por grupos disciplinares e a forma como está
organizada a sua carreira e formação?
Com que dispositivos de avaliação
externa, mas também interna, iremos trabalhar, nem tudo é compatível com tudo.
Com que efectivo de turma iremos
trabalhar em “projecto”? O efectivo de turma tem impacto comprovado no nível de
diferenciação das práticas pedagógicas, no clima de aprendizagem ou na
acomodação da diversidade dos alunos.
Neste contexto preferia que
tivéssemos mais algum tempo de construção da mudança antes de a operarmos mesmo
que em regime experimental e em escala mais pequena.
Existem demasiadas dúvidas e um
ruído que, sendo habitual, não é positivo. Temo que se corra, mais uma vez o risco de perder uma oportunidade esperar que novo ciclo eleitoral traga nova(s) mudança no(s) currículo(s).
Estou, no entanto, a torcer para
que tudo corra o melhor possível. Já vai sendo tempo e já merecemos, sobretudo os alunos e professores.
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