Tendo terminado ontem o período
de consulta pública do “Perfil dos Alunos para o Sé. XXI” começam a ser
conhecidas algumas apreciações de natureza mais institucional sobre a proposta
do ME.
Uma primeira referência à posição
expressa pela Sociedade Portuguesa de Matemática que segundo o que se encontra
no Público parece arrasadora do documento.
Entende que não promoverá “reais
possibilidades de aprendizagem ao longo de todo o seu percurso escolar”. As suas
concepções, bem conhecida desde que foi presidida por Nuno Crato de quem também
foi um sólido apoio enquanto ministro assentam na obsessão pela medida, na
construção de um currículo prescritivo, extenso e normativo em nome da velha
retórica da exigência e do rigor que não vê nesta proposta sem que se perceba
muito bem porque pois muito ainda falta.
Assim, expressa uma posição de fé “Esta
proposta, bem como as alterações curriculares que dela podem vir a decorrer,
(sublinhado meu) encerram o perigo de conduzir as escolas a actividades
pedagógicas desorganizadas e sem conteúdos claros, fruto de uma imposta
doutrinação metodológica”.
Entende, pois, que “é um
documento pouco claro”, com “princípios vagos” e que “não traduz a evolução
moderna do conhecimento sobre a aprendizagem e o ensino”. São princípios que
estiveram “em voga” no tempo em que a educação era má concluem.
O preconceito e o modelo
curricular que defende não permite à SPM perceber que os “princípios vagos” que
que refere são os mesmos que informam diferentes modelos curriculares implantados
ou em mudança noutros países longe de possuírem sistemas educativos sem
qualidade.
Nada de novo, trata-se de uma
posição que tem pouco a ver com currículo e mais com um modelo de educação, de
sociedade e de escola que normaliza e selecciona através da medida, quase que
exclusivamente centra da em resultados e em saberes instrumentais não importa
ao serviço de que pessoa.
Por outro lado, o Conselho de Escolas divulgou também uma apreciação que em síntese se pode referir como de
concordância genérica com os princípios enunciados, que nem sequer são novos e
com o modelo de educação que os informa,
Chama no entanto a atenção para o
processo de mudança, calendários e oportunidade e para um conjunto de questões
de natureza mais funcional de que relevam “Que alterações se imporão, ao nível
dos planos curriculares e da gestão do currículo, que permitam desenvolver as
competências previstas no documento?”, “que modelos de avaliação dos alunos se
aplicarão para avaliar e certificar a novas competências?”, “Que alterações se
introduzirão nos tempos e espaços de aula, na organização e no funcionamento
das turmas?”; “que alterações serão introduzidas na formação inicial e que
formação contínua está prevista para os actuais docentes, para enfrentarem esta
nova abordagem educativa?”
Este foi justamente o sentido
de umas notas que aqui coloquei sobre o Perfil dos Alunos para o Séc. XXI e que
retomo.
Quando no Séc. XX se começou a
falar de que os alunos deveriam saber utilizar diferentes textos e linguagens, de
que deveriam saber aceder a informação e saber comunicar, de que deveriam aprender a
relacionar-se, a interagir e a cooperar, de que deveriam aprender a raciocinar e a
resolver problemas, de que deveriam desenvolver pensamento crítico e pensamento
criativo, de que deveriam ser autónomos e com formação pessoal adequada, de que
os alunos deveriam aprender a promover o seu bem-estar e saúde, de que deveriam
desenvolver sensibilidade estética e artística, de que deveriam aceder ao saber
técnico e domínio de tecnologias, de que deveriam ter consciência e domínio do
corpo, de que a escola deveria ser mais do que a simples transmissão de
conhecimentos, de que se deveriam desenvolver projectos interdisciplinares
promovendo a articulação e integração de conteúdos de diferentes disciplinas,
de que se deveria promover a educação para a cidadania e a formação cívica, de
que os testes não deveriam constituir a única forma de avaliação, de que
deveriam ser valorizadas as diferentes disciplinas e equilibradas as suas
cargas horárias pareceu-me bem.
Bom, o caminho tem sido o que
conhecemos e agora que chegámos ao Séc. XXI voltamos a uma nova formulação destas
intenções. Bem, mais uma vez, agora no Séc. XXI, … parece-me bem.
Tenho, no entanto, algumas dúvidas
pequenas de que deixo alguns exemplos.
Tudo isto será desenvolvido com
que calendário e metodologia de mudança?
Tudo isto será desenvolvido com
que estabilidade e perspectiva de consistência no tempo?
Tudo isto será desenvolvido com
que organização curricular, conteúdos e cargas horárias, por disciplina e
globais?
Tudo isto será desenvolvido com
que quadro de autonomia?
Tudo isto será desenvolvido com
que dimensão das turmas e das escolas? Eu sei que nem todas são excessivamente
grandes mas algumas são.
Tudo isto será desenvolvido com
que ajustamento em práticas, capacidade e recursos de promover diferenciação
para acomodar a diversidade dos alunos e promover um menor peso dos manuais no
trabalho de alunos e professores?
Tudo isto será desenvolvido com
que modelos e dispositivos de avaliação de alunos, professores e escolas?
É o que ainda falta saber.
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