A Comissão Parlamentar de
Educação e Ciência decidiu criar um grupo de trabalho para análise da Petição sobre
o peso excessivo das mochilas escolares. O objectivo será a tentativa de apresentação
de uma iniciativa legislativa que envolva o contributo integrado das diferentes
bancadas parlamentares.
Considerando a tradicional
dificuldade no estabelecimento de consensos relativamente à educação o meu
optimismo é moderado mas a esperança mantém-se.
Assim sendo e apesar entender que
nem tudo deveria carecer de ser legislado, o bom senso deveria bastar mas assim
não é, esperemos que algo surja no sentido de minimizar a situação que para
algumas crianças é mesmo pesada.
É geralmente aconselhado que o
peso transportado não seja superior a 10% do peso da criança. Como há tempo aqui escrevi, não
sei se haverá algum estudo mais recente mas recordo um trabalho da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa de 2011, coordenado pelo
Professor Mário Cordeiro e envolvendo umas centenas de alunos entre os seis e
os 13 anos de uma escola de Lisboa que mostrava que sete em cada dez miúdos
transportavam mochilas com excesso de peso, acima de 10% do seu peso corporal.
Como é óbvio esta preocupação,
pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos,
deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora,
por outro lado, o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a
ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e
combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
No entanto, aproveitando o espaço
e o tempo de reflexão criados talvez fosse útil olhar de uma forma mais
alargada para o peso excessivo que muitas crianças carregam nas suas costas.
As mochilas escolares serão
apenas um dos carregos, por assim dizer, mas existem outros.
Estou a pensar no peso da pressão
para que sejam excelentes.
Estou a pensar no peso da pressão
para que sejam o que não são e da pressão para que não sejam o que são.
Estou a pensar no peso da pressão
de viver demasiado só.
Estou a pensar no peso da pressão
que leva a que, por vezes, só gritando e agitando-se se façam ouvir.
Estou a pensar no peso da pressão
de não conhecer o caminho e sentir-se perdido.
Estou a pensar no peso da pressão
de actividades sem fim e, às vezes, sem sentido. Estou a pensar no pessoa da
pressão do depressa e bem.
Estou no peso da pressão para
sejam diferentes e na pressão para que sejam iguais.
Estou a pensar no peso da pressão
causada por famílias demasiado distantes ou por famílias demasiado próximas ou
ainda por famílias ausentes.
Na verdade, há miúdos que
carregam o mundo às costas. Entende-se as preocupações dos pediatras,
ortopedistas, outros especialistas e de muitos de nos com a coluna dos miúdos.
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