Foi ontem divulgado o resultado
do trabalho do Grupo coordenado por Guilherme d’Oliveira Martins que definiu o
perfil de competência que um aluno deve possuir no final da escolaridade
obrigatória, o "Perfil do Aluno do Século XXI".
Não conheço ainda o trabalho para
além do que se encontra na comunicação social.
O documento vai entrar em
discussão pública pelo que mais adiante será possível uma leitura atenta que é,
evidentemente, justificada.
São identificadas 10 áreas de
competências a saber: linguagens e textos, informação e comunicação,
relacionamento interpessoal, raciocínio e resolução de problemas; pensamento
crítico e pensamento criativo; desenvolvimento pessoal e autonomia; bem-estar e
saúde; sensibilidade estética e artística; saber técnico e tecnologias; consciência
e domínio do corpo. Parece-me importante salientar a ideia de uma visão integrada e não hierarquizada das áreas de saber e a recuperação de uma visão de formação global. De facto, educar é mais que ensinar e aprender é mais do que dominar saberes instrumentais, por mais úteis que sejam.
São ainda definidos oito
princípios estruturantes de que é salientada a ideia de flexibilidade.
As escolas poderão gerir dentro
do seu quadro de autonomia, mais afirmado que real, parte do currículo e
pretende-se aumentar o grau de diferenciação das abordagens curriculares, das
metodologias e da integração de conteúdos.
É muito frequente no universo da
educação que quando se fala de mudanças surjam inúmeras referências centradas
no excesso de alterações o que retira estabilidade e pensamento a prazo a este
universo.
Paradoxalmente, ou talvez não,
existem outras tantas referências que afirmam a necessidade de mudanças.
A este cenário não será alheio um
mundo de conflitualidade de interesses e visões em matéria de educação. Acresce
ainda que as opiniões sobre o excesso de mudanças ou a sua necessidade são de
uma percepção altamente dispersa, quase individualizada, em modo “cada cabeça,
sua sentença”.
Relativamente às mudanças em
matéria de currículo, ao seu anúncio correspondeu de imediato o habitual coro
de “lá vem mudança”, “retorno do facilitismo”, etc. O outro coro afina pela necessidade
de ajustamento, embora para ambas as posições seja ainda pouco claro o sentido,
o alcance, o calendário ou o método da mudança.
É verdade que existiam opiniões
que entendiam como ajustadas as opções actuais em matéria de currículo. No
entanto, creio que muitos professores de diferentes áreas disciplinares consideram
os currículos extensos, demasiado prescritivos e normativos, pouco amigáveis
para as diferenças entre alunos e para o número de alunos habitual em algumas turmas que, com frequência, são as que integram alunos em situação mais vulnerável.
Não estando em causa, do meu
ponto de vista, a definição de metas de aprendizagem, com esta ou outra
designação, dificilmente 998 metas curriculares para os nove anos do ensino
básico em Português ou 703 metas curriculares para Português e Matemática no 1º
ciclo do básico, bem como o conteúdo de muitas destas metas, podem ser algo de
muito positivo para o trabalho bem-sucedido de alunos e professores, antes pelo
contrário.
Em que ficamos?
O que vai sendo conhecido parece
ir ao encontro dos modelos curriculares de muitos países habitualmente
considerados como possuindo sistemas educativos com qualidade reconhecida.
É verdade que mudar, só por
mudar, é errado e tem consequências negativas a vários níveis.
Mas também é verdade que não
mudar algo que não é positivo tem custos muito elevados, prolongados e com
impacto negativo em diferentes dimensões.
Finalmente, creio que o impacto
positivo de mudanças de natureza curricular não decorre “apenas” de questões
centradas no currículo. Para além de questões como a avaliação, a organização dos ciclos e das áreas disciplinares, envolve, por exemplo, recursos docentes, turmas com
efectivos adequados, apoios a alunos e professores em tempo oportuno,
suficientes e competentes.
É nesta área que temo que se
mantenham alguns obstáculos aos efeitos potencialmente positivos de uma
orientação de mudanças necessárias em matéria de currículo.
Com melhor conhecimento do ‘Perfil
dos Alunos para o Século XXI’ retomaremos esta questão.
1 comentário:
... gostava de ter lido algo mais consistente relativamente ao desenvolvimento moral e ético dos nossos jovens...
....a importância de trabalharmos e desenvolvermos junto dos nossos alunos a capacidade empática que é tantas vezes descurada...
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