Era uma vez um Rapaz que mesmo em
pequeno não parecia pequeno. Eu explico. Logo de gaiato interessava-se mais por
estar perto dos adultos que dos miúdos da sua idade, tinha comportamentos que
espantavam as pessoas pois eram praticamente a cópia de um adulto bem
comportado.
Gostava de conversar com os
adultos e interessava-se pelos temas de conversa que, normalmente, são mais
habituais nos adultos. Não revelava particular interesse por coisas típicas dos
mais pequenos.
Nunca lhe conheceram uma asneira
ou disparate daqueles que os miúdos fazem. A família revia-se enlevada nos
elogios que os outros pais faziam, “que maturidade!”, “tão adulto!”, “que
inteligente, nem parece ter a idade que tem!”. Estranhamente, até a roupa de
que gostava era mais do género adulto certinho do que de miúdo. Os pais sempre
o incentivaram neste estilo e alguns professores felicitavam os pais pela
excelente educação que o Rapaz revelava. E assim se foi passando a vida do
Rapaz que cresceu depressa. Estranhamente para toda a gente quando ficou mais
crescido começou a entristecer e sentir-se infeliz. Todas as noites o Rapaz
sonhava que era pequeno e brincava com os miúdos e miúdas da sua idade a todas
as brincadeiras que tinha visto fazer e nunca quis participar, sonhava que
fazia asneiras nas aulas e que pregava partidas a professores e aos outros
adultos.
Sonhava que era adolescente e
tinha uma namorada com quem trocava beijos às escondidas, fumava uns cigarros
sem os pais saber e saía com os amigos para ir a ouvir a música. Sonhava que
dizia asneiras e se vestia como os outros rapazes.
Quando acordava e se olhava no
espelho percebia que a sua infância e juventude não passavam de sonhos e
voltava a sentir-se infeliz.
Ninguém pode passar sem ser miúdo
e jovem, ninguém pode crescer depressa.
Às vezes esquecemo-nos.
Às vezes esquecemo-nos.
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