A Provedora de Justiça da União Europeia abriu um inquérito à acção “alegadamente insuficiente” da Comissão Europeia no âmbito da ida do ex-presidente da Comissão, Durão Barroso, para o Goldman Sachs. É giro mas como se diz na minha terra, tarde piaste, acho que vai produzir
uma mão cheia de nada e outra cheia de coisa nenhuma.
A minha convicção assenta no
seguinte.
Em primeiro lugar porque o lugar foi conquistado através de longo e exigente concurso público e
transparente.
A José Manuel Durão Barroso valeu
um currículo académico extenso, com obra e investigação publicada nas mais
exigentes publicações científicas.
Ao seu vastíssimo currículo
académico deve juntar-se também algumas décadas de experiência na banca e na
área do investimento e gestão com um brilho e resultados reconhecidos pelas
mais robustas praças financeiras mundiais.
No entanto, e apesar destas
reconhecidas dimensões, José Manuel Durão Barroso demonstrando um elevado sentido
de missão e espírito de sacrifício, ainda realizou uma brevíssima incursão pela
actividade política com raro destaque e brilhantismo chegando merecidamente à
presidência da Comissão Europeia. Aqui, com o empenho e competência de sempre
bateu-se esforçadamente pela defesa dos interesses dos cidadãos europeus.
Alguém se poderá esquecer da sua genial intervenção na histórica cimeira das Lajes?
É pois de saudar a justiça e o
reconhecimento que representam a função que passará desempenhara ao que parece
a troco da simbólica quantia de cinco milhões euros por ano.
E assim se cumpre o fabuloso
destino de José Manuel Durão Barroso.
Acresce ainda que num mundo em
constante mudança o mercado de trabalho é exigente e inovador e criativo, só os
melhores dos melhores chegam ao topo das instituições. Este cenário é
particularmente competitivo nessa nova, crucial e atractiva função, “facilitador”.
Aparentemente simples é, no
entanto, bem complexo o trajecto de formação de um bom “facilitador”.
Deve começar bem cedo com uma
carreira política construída de raiz, através do aparelhismo partidário e durante
alguns anos de forma a deter uma boa carteira de contactos, de preferência de
nível global, como agora se diz, e em seguida tornar-se consultor de grandes
"players" em diversas áreas.
É dispensável ter qualquer tipo
de conhecimento especializado nas múltiplas áreas que um bom
"facilitado" acumula, basta gerir a agenda de contactos e mediar
interesses, os interesses certos, claro. Dada a globalização e as dimensões é
um trabalho hercúleo.
Durão Barroso, Paulo Portas,
"Dr." Miguel Relvas, Jorge Coelho, Maria Luís Albuquerque, José Luís
Arnaut, António Vitorino, Marques Mendes, Proença de Carvalho, etc., etc., são
alguns exemplos de facilitadores que jogam na "champions", a liga
dourada, o topo da carreira.
É verdade que depois existe um
outro patamar em múltiplas figuras menores, mais ou menos conhecidas, que se
movem promiscuamente entre funções públicas e privadas, tudo sempre dentro da
lei e muitas vezes do lado de fora da ética e da seriedade.
Acredito que do inquérito venha a
concluir-se que assim, e tal, talvez fosse melhor ter feito de outra maneira,
não se encontra nada de ilegal, etc., e … até à próxima.
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