Segundo dados do INE ontem
divulgados a taxa de abandono escolar precoce subiu ligeiramente face a 2015.
Entre os 18 e os 24 anos 14% dos jovens não tinha concluído o secundário nem
fretam programas de formação.
É verdade que há 10 anos nos
confrontávamos com taxas de 38.5% mas ainda assim continuamos com uma das mais
altas taxas da UE e parece difícil atingir o objectivo dos 10% em 2020.
Como muitas vezes afirmo a
exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da exclusão social e em
países mais desenvolvidos, portanto com maiores exigências de qualificação
dos seus cidadãos, o sucesso educativo traduzido também numa qualificação profissional é uma questão central e a base de um
futuro melhor.
No entanto, julgo pertinente
chamar atenção para que não se caia na tentação, está acontecer, de que a
manutenção dos jovens no sistema educativo, que por princípio é boa, naturalmente,
seja promovida em torno de modelos de elitização do ensino e de uma resposta de
"segunda" para os outros.
Importa estruturar percursos formativos diferenciados, nem todos têm que acabar no
ensino superior, evidentemente, mas esta diferenciação na oferta formativa e na
duração dos percursos de educação e qualificação não pode assentar na ideia de
percurso de "primeira", para os mais dotados, e de percursos de
"segunda" para os outros.
Os estudos, mostram sem surpresa,
aqui a tradição ainda é o que era, que o abandono precoce tem ainda uma
profunda marca de classe, ou seja, atinge predominantemente as famílias menos
qualificadas e de menor estatuto social, económico e cultural. Se estes jovens
são empurrados para vias de "segunda" a mobilidade social" está
evidentemente comprometida. As experiências de outros países mostram claramente
estes riscos, veja-se o caso da Alemanha e os efeitos do seu modelo de ensino
dual.
Recordo também o Programa Novas
Oportunidades que partiu de uma boa ideia e se abastardou quando passou a ser
uma ferramenta de promoção rápida de certificação escolar para criar
estatísticas s simpáticas, mas sem corresponder a efectiva qualificação, pois
certificar à pressa, não é qualificar.
Esta situação complexa e de
difícil ultrapassagem tem, obviamente, sérias repercussões nos projectos de
vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras,
contar-se-ão o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a
condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos
de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam
enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito
provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira
profissional.
No entanto, um efeito muito
significativo mas menos tangível deste quadro precário ou sem alternativas
aparentes, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à
própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das
lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a
instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um
projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que recompense.
Este problema que não é um
exclusivo português, longe disso, exige uma visão e um conjunto de políticas que
a não acontecerem comprometem a construção sustentável do futuro.
Podemos estar perante a tragédia
das gerações perdidas de que há algum tempo se falava.
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